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A Academia Brasileira de Letras (ABL), que por décadas representou o pináculo da cultura, do pensamento e da erudição nacional, vive hoje um momento de profunda crise identitária e de qualidade que exige uma reflexão séria. Longe da qualificação intelectual e do rigor que nortearam os 'imortais' do passado, homens como Machado de Assis, Euclides da Cunha e Olavo Bilac, a instituição parece ter trocado a defesa intransigente da excelência literária e da norma culta por um perigoso e passageiro ativismo ideológico. Este desvio de propósito compromete o papel histórico da ABL como guardiã máxima do nosso patrimônio linguístico.
O exemplo mais recente dessa derrocada de valores se deu com a posse de uma nova membro, um fato que, em tese, poderia ser celebrado pela inclusão. No entanto, a pompa do evento foi rapidamente ofuscada pela retórica que o acompanhou. Em vez de exaltar a beleza, a força e a tradição da literatura brasileira – a verdadeira missão de um 'imortal' –, o discurso se pautou pela defesa apaixonada de modismos linguísticos e neologismos destrutivos, nomeadamente a chamada "linguagem neutra" e o "pretuguês".
É imperativo reiterar nosso compromisso inabalável com a liberdade de pensamento e de expressão, bem como com a representatividade em todas as esferas da sociedade. Contudo, essa bandeira não pode, sob hipótese alguma, servir de pretexto para a destruição do patrimônio linguístico nacional. O idioma português não é uma ferramenta descartável; é um dos mais ricos, complexos e belos do planeta, um monumento vivo construído a partir de séculos de história, filosofia, literatura e evolução cultural.
Quando a instituição que historicamente deveria ser o bastião da nossa língua endossa, ou ao menos não refuta com a veemência necessária, a descaracterização sistemática da gramática, da sintaxe e da própria lógica da comunicação, ela trai seu pacto fundador.
O cerne da questão não reside na evolução natural e orgânica da língua, processo que sempre ocorreu e enriqueceu o idioma, mas sim na imposição ideológica de uma estrutura que visa desconstruir o idioma. A 'linguagem neutra', com suas aberrações como o uso do 'x' ou do 'e' no lugar das vogais de gênero, não apenas ignora a estrutura gramatical binária do português (com gêneros definidos) como também sabota a clareza, a precisão e a elegância essenciais à boa comunicação. Trata-se de uma tentativa forçada de adequar a língua a uma agenda política, ao invés de deixá-la seguir seu curso natural.
Da mesma forma, o conceito de "pretuguês", ao sugerir uma separação artificial do idioma falado por diferentes grupos étnicos, é profundamente desagregador. Ele enfraquece a unidade linguística que, apesar de todas as nossas diferenças regionais e sociais, é um dos principais fatores de coesão que nos une como nação brasileira.
A linguagem é a infraestrutura do pensamento. Uma língua clara, lógica e bem estruturada é absolutamente essencial para o raciocínio rigoroso, para o exercício pleno da liberdade de pensamento e para a manutenção de um debate público civilizado. Quando permitimos que a linguagem seja sequestrada e instrumentalizada por pautas ideológicas efêmeras, transformando-a em ferramenta de militância em vez de veículo de conhecimento e arte, colocamos em risco a própria capacidade das futuras gerações de se expressarem com profundidade, coerência e rigor.
A ABL, com seu peso e autoridade, tem a responsabilidade indelegável de ser o farol da norma culta. Seus membros não devem ser apenas celebridades; eles devem ser a voz da tradição, da excelência e da estabilidade gramatical. O papel deles é garantir que a riqueza estrutural do português permaneça intacta, preservada e disponível para ser desfrutada por todos os cidadãos, independentemente de raça, classe ou crença.
Defender a integridade do português contra a "linguagem neutra", o "pretuguês" e outros modismos ideológicos não é um ato de elitismo ou conservadorismo social, mas sim de conservação cultural essencial e de compromisso com a clareza, a lógica e a liberdade de expressão. É urgente que a Academia Brasileira de Letras retome sua vocação original e se posicione de forma firme e inabalável na defesa de nosso idioma, antes que a beleza e a precisão do nosso português sejam definitivamente destruídas em nome de um politicamente correto que se revela linguisticamente destrutivo.
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