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OPINIÃO

A crise se aprofunda e a anistia é o caminho

  

O Brasil vive um de seus momentos mais turbulentos, com as tensões entre os Três Poderes atingindo um ponto de ebulição. Em um cenário já complexo, a oposição na Câmara e no Senado protagoniza uma obstrução contundente, com um objetivo claro: forçar a votação da anistia para figuras punidas por decisões judiciais sobre o 8 de janeiro e por opiniões e manifestações contra a suprema corte. Esta estratégia, que paralisa o Congresso e impede o avanço de pautas urgentes, não é um sintoma da crise, mas sim uma ação necessária para enfrentar a sua verdadeira causa: o desequilíbrio institucional que o país atravessa.

Não se trata de um debate isolado, mas de um capítulo de uma trama maior, que envolve a insatisfação com a atuação do Poder Judiciário. A crítica, cada vez mais vocal, aponta para um ativismo judicial que extrapolou seus limites e interferiu de forma indevida nas atribuições do Legislativo e do Executivo. A anistia, neste contexto, seria a resposta àquilo que consideram um desequilíbrio perigoso para a saúde da democracia. A sensação de que o Judiciário, em particular suprema corte, se tornou um "superpoder", capaz de ditar os rumos do país e de deslegitimar a atuação dos representantes eleitos, alimenta a insatisfação e a mobilização da oposição.

A crise, porém, não se restringe às fronteiras nacionais. O cenário de instabilidade no Brasil tem reverberado internacionalmente. As recentes sanções dos Estados Unidos, motivadas pela percepção de falta de liberdade e de interferência indevida do Judiciário, acendem um alerta grave. A superpotência, outrora parceira, sinaliza que a deterioração do ambiente democrático brasileiro não passa despercebida. Tais sanções não são apenas um gesto simbólico; elas podem ter impactos econômicos significativos, afugentando investimentos e prejudicando a imagem do Brasil no cenário global, o que, ironicamente, corrobora a tese de que há algo de profundamente errado com o sistema atual.

É imperativo questionar a visão de que a anistia é um retrocesso. Pelo contrário, ela é uma medida de correção de rumos, uma tentativa de desfazer as injustiças cometidas por um Judiciário que, ao invés de atuar como guardião da Constituição, se tornou um ator político. A anistia ampla e irrestrita não deslegitima as instituições, mas busca restaurar sua credibilidade, mostrando que o Brasil não aceita a submissão de um poder a outro. O debate sobre os limites do Judiciário é legítimo e necessário. A questão, no entanto, é como conduzi-lo. A paralisação do Congresso e a busca por uma solução radical como a anistia podem, ao invés de aprofundar a crise, ser a única forma de resolvê-la.

O Brasil se encontra em uma encruzilhada. De um lado, a urgência de garantir a harmonia e o equilíbrio entre os Três Poderes. De outro, a necessidade de enfrentar as críticas legítimas à atuação do Judiciário e corrigir os desvios. A anistia, neste cenário, se tornou um símbolo. Para a oposição e para uma parcela crescente da sociedade, é a chance de reverter o que consideram injustiças e de restaurar a normalidade democrática. Para o restante do país, ela representa a possibilidade de um salto no escuro, com consequências imprevisíveis.

A busca por soluções exige mais do que a simples polarização. É necessário um diálogo sério e construtivo entre as lideranças políticas, judiciais e da sociedade civil. O Brasil precisa de menos gritaria e mais concertação. Do contrário, o que resta é aprofundar uma crise que já cobra um preço alto da nossa estabilidade, do nosso prestígio internacional e, o mais importante, da nossa democracia. A história nos ensina que a escalada de tensões, quando não gerenciada, pode levar a um ponto de não retorno. E é justamente neste ponto que o Brasil parece estar.