Se mais de 52 milhões de brasileiros já se aventuraram em apostas on-line, as chamadas BETS, então caro leitor, você já conheceu pessoas que ganharam e muito mais as que perderam nessas apostas, pois o jogo vicia e o que se ganhou volta para a rodada do próximo viciado a entrar na jogatina. Essas BETS são uma tragédia social, pois os mais pobres apostam mais na esperança ardilosa do dinheiro rápido e fácil. Uma tragédia econômica, pois alguns ainda deixam de pagar contas importantes como água e luz e usar orçamento da alimentação, e até de se divertir e viajar para ter dinheiro para jogar num círculo de vício irrefreável.

Desde a lei 13.756/2018 em que foi regulamentada essas apostas eletrônicas, esse mercado vem

crescendo silenciosamente, chegando a 520 empresas cadastradas, e após o marco regulamentário que, apenas nos últimos 3 meses findos de 2024 colocaram 3 bilhões em impostos no governo federal. Desde 2021 o setor cresceu 734%, com mais de 520 empresas que foram legalizadas em 2024. Com agressividade e aguda transmissão devastam os orçamentos de quase metade da população brasileira, atingindo mais que os 38 milhões de pessoas positivadas pelo Covid-19. As BETS são comparadas a uma epidemia, por se espalhar mais rápido e também por atingir todas as idades, causando danos à saúde mental e financeira, arrastando vidas para um caminho de vício em jogos.

As chamadas Bets têm o público mais cativo, os jovens, que segundo DataFolha, representam 15% dos apostadores e com média de R$263,00 por mês, 20% do salário do mínimo, e 76% deste público apostam mais de uma vez por semana. Esse mercado movimentou 1% do nosso PIB brasileiro, correspondendo entre 100 bilhões e 120 bilhões somente em 2023, com tendência de alta.

Elas entraram na mente do povo brasileiro, agora pela paixão nacional, com as Bets patrocinando 80% de todos os times da Série A do Brasileirão, desembolsando 560 milhões de reais para estampar as camisetas de times e torcidas apaixonadas pelo futebol. Assista um jogo no domingo e verá apenas Bets nas propagandas, o Corinthians, por exemplo, tem a casa de apostas chamada Esportes da Sorte, com contrato de 309 milhões. Outro exemplo é o Flamengo que tem como patrocínio master a PIX BET que pagará 170 milhões que tem sua sede no paraíso fiscal de Curaçau, país da América Central.

A margem de lucros dessas empresas é apenas estimável, pois não há divulgação de balanços, podendo ser de 35% a 40% do valor arrecadado pelas apostas. Até a Caixa Econômica Federal quer implantar uma empresa de BETS para entrar neste mercado de apostas, visto que apenas as apostas das loterias estão perdendo espaço, enquanto a CEF arrecadou 23 bilhões em 2023, se tivesse um BET arrecadaria 50% desse valor com menos de 10% de custos.

Segundo levantamento do Banco Central (BC), divulgado no final do mês de setembro de 2024, cruzando dados de renda, chave pix e dados do Bolsa Família, constatou-se que a média mensal de gastos com apostas foi de R$20,8 bilhões, sendo que 3 bilhões foram apostadas por 5 milhões de pessoas beneficiários do Bolsa Família, ou seja, quase 15% de tudo que foi apostado somente em Bets no Brasil tem origem do dinheiro contado e minguado da população mais vulnerável. Quatro milhões desses mesmos desfavorecidos são chefes de família com média de gastos de R$100,00 por aposta.

Associações de supermercados, setor de turismo e moda estão se unindo para reivindicar ao governo uma medida severa para redução do crescimento das BETS. O dinheiro que do orçamento das famílias que era para comprar vestuário e gastar com lazer, 38% desses gastos nestes itens estão parando nas apostas e estão gastando mais em apostas do que se come de arroz no Brasil.

Segundo psicólogos, o poder de viciar das BETS é maior que as drogas, e quanto menor o intervalo entre as apostas e ganho mais rápido nas primeiras apostas, maior é o risco de vício. Em 1980 esta obsessão por apostas era categorizada pela medicina como transtorno impulsivo, chamando de LUDOPATIA (vício em jogos de azar) e apenas em 2013 passou para classe de doença de dependência, comparável às drogas químicas.

Esses jogos atuam no cérebro do dependente no mesmo jeito que drogas atuam viciando o sistema de ação e recompensa através do hormônio da DOPAMINA. Este neurotransmissor é a substância química que é produzida toda vez que temos a previsão que algo positivo pode acontecer, um hormônio que provoca esperança de algo bom irá surgir, com sensações ligadas ao prazer, euforia e bem-estar. Desencadeia sensações de puro prazer, reforçando para repetir comportamentos que liberem mais dopamina, que motiva a buscar novas experiências e ativar o sistema de recompensa, por isso o inédito sempre tem mais contentamento.

Um exemplo de efeito dopaminérgico, que produz dopamina, é um cheiro de bacon com bife sendo frito, uma entrevista de vaga de emprego que parece que foi feita para você e tem chance de ocupar, ou uma mensagem de texto no whatsapp, escrito “oi sumido”. E é justamente esse aumento da dopamina que os jogos de azar com apenas que você acha que tem chance de vencer que a gera expectativa de prazer, que depois do ganho, gera mais vontade de continuar ganhando, pois tem expectativa de ganhar muito dinheiro, gerando mais sustância num tempo infinito de vício profundo, quanto mais ganha mais vontade de ganhar se tem, e se perder tem vontade de continuar pois as primeiras jogadas a banca sempre vai te deixar ganhar, para criar memória que uma vez ganhou e tem a inocente ilusão de voltar a ter sorte novamente.

Além do impacto social e econômico, essas casas de apostas podem vir a ocultar crimes de “lavagem de dinheiro” sobre o que foi obtido pelo crime organizado por roubos, estelionatos e ilegalidades diversas. Para fazer o dinheiro parecer de origem legal basta comprar várias apostas do “tigrinho” e esperar. E ainda dentro dessa atmosfera das BETS temos a fraude ostensiva para trazer mais apostadores, muitos influenciadores digitais e pessoas famosas tem realizado divulgações e publicações, “vendendo” a ideia que estão ganhando dinheiro com apostas, quando se está ganhando apenas com mais seguidores e patrocínios.

Diante do exposto, é necessário avaliar que apostas não são investimento, desconfie sempre de dinheiro com lucro fácil e rápido. O mercado financeiro, dentre todos os tipos de investimento disponíveis como ouro, CDB, LCA, LCI, Fundos de Investimentos, Poupança, etc., não irá te deixar rico de forma instantânea, é preciso disciplina e tempo para potencializar os ganhos. E mais que saber aplicar seus recursos é saber diferenciar uma proposta real de lucro e uma disfarçada de investimento, hoje se alguma aplicação com baixo risco, pagar acima de 1,00% ao mês, desconfie pode ser golpe.

Assim, seguimos juntos nesta jornada, praticando e difundindo a todos uma educação financeira simples e de resultado.

Até breve!
Juscelino Gaio