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EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Desafio Dinheiro no Bolso

Como incentivar-se a poupar mesmo com renda baixa

  

Como pode uma pessoa simples que ganha pouco consegue poupar? Não é sobre dinheiro é sobre comportamento, relacionamento e cuidado com o seu futuro, sempre falo para meus clientes: prefiro ficar velho que morrer (risos). O problema está no jeito que tomamos decisões financeiras — e não só na quantidade de dinheiro que entra. 

Poupar é Contra-intuitivo: guardar dinheiro parece simples, mas é um dos hábitos mais difíceis de manter — principalmente para quem é assalariado, vive no limite do orçamento e sente aperto que cada real é disputado entre contas, desejos e imprevistos. A verdade é que nosso cérebro não foi feito para o longo prazo. A evolução moldou nossas decisões para resolver problemas imediatos: fome, segurança, prazer e eliminar a dor. Pensar na aposentadoria ou em uma reserva de emergência exige esforço cognitivo — algo que, depois de um dia de trabalho puxado, é raro sobrar.

Por isso, precisamos usar a ciência comportamental a nosso favor com o estudo dos viéses cognitivos e nudges que podem ser grandes aliados para enganar o cérebro e criar o hábito de poupar e investir. Para tanto temos três principais vieses que atrasa seu cofrinho, a saber:

1. Viés do Presente (ou Desconto Hiperbólico)

Preferimos recompensas imediatas à futuras — mesmo que a futura seja muito maior. O presente é mais valorizado que o futuro, por vários tipos de incertezas herdadas inclusive da genética. Esse viés pode levar a escolhas financeiras ruins, como gastar todo o dinheiro agora, em vez de economizar para o futuro, ou a adiar tarefas importantes por procrastinação. Exemplos: “É só um delivery hoje...” vira R$ 80 a menos na poupança todo mês. Preferir receber R$ 100 hoje do que R$ 120 daqui a um mês. Gastar todo o salário em vez de guardar uma parte para imprevistos ou investimentos. Nudge (incentivo) prático: Use recompensas visíveis para o futuro. Ex: ao poupar R$ 10 por semana, cole um adesivo no calendário. Ao final do mês, terá R$50,00, permita-se um mimo barato (R$ 15). O cérebro aprende a associar espera com prazer, e começa a gostar de poupar.

Outra forma ainda é fazer visualização de futuro imaginando e planejando quando e como seria se você tivesse dinheiro para comprar o que pudesse escolher, porque quando se tem as contas apertadas, orçamento engessado tudo vai para as contas serem pagas sem escolha, ser rico é gastar pouco com custo de vida e usar o dinheiro para investir, aprender e ter novas experiências de vida e negócios novos.

 2. Viés da Aversão à Perda

Perder R$ 100 dói mais do que ganhar R$ 100. Isso faz com que evitemos investir ou guardar por “medo de ficar sem agora”. Nudge prático: A prática que se aprende ao longo da vida é que o hábito de poupar evita uma perda futura: “Sem reserva, qualquer imprevisto vira dívida”. Todos os dias presencio pessoas que fazem empréstimo pessoal ou consignado em folha para pagar imprevistos dos mais diversos, desde o conserto do carro, doença na família, e 7 em cada 10 cartão de crédito atrasado. Quando se guarda dinheiro no presente é preciso trocar o pensamento “estou perdendo R$ 100 guardando” por isso “estou evitando um empréstimo de R$ 1.000 com juros”.

3. Viés de Inércia (Status Quo)

Tendemos a manter o que já está definido, mesmo que não seja o melhor. Este viés da inércia é a preferência de um indivíduo por manter seu estado atual, mesmo se uma alteração de sua situação proporcionasse um aumento de bem-estar. Este viés estimula o indivíduo a permanecer no nível de referência atual. Assim, como diria uma frase famosa do livro O Mágico de Oz: “Não há lugar melhor do que o nosso lar”. Desejamos o familiar, SOMOS avessos a perda potencial que atribuímos a uma “nova” decisão. Como resultado, as pessoas muitas vezes “escolhem” opções pré-definidas, mesmo quando muitas outras estão disponíveis. Exemplo: Esta ideia de inércia revolucionou a poupança de aposentadoria nos Estados Unidos: muitas empresas agora inscrevem os funcionários em programas de poupança privada de forma automática (dando-lhes a opção de deixar o programa, se assim o desejarem), em vez de fazê-los preencherem e enviarem um formulário para se inscreverem. Nudge prático: Configure uma transferência automática para uma conta de investimento ou aplicação financeira como CDB, fundos de renda fixa simples ou tesouro direto no dia seguinte ao salário cair. Deixe a regra no piloto automático. O esforço de desativar será maior do que o de manter — e a tendência é continuar poupando sem perceber.

Poupar é invisível. O dinheiro que não gastamos desaparece da nossa vista? Uma das soluções é visualizar o progresso. Sugestão: Use um frasco de vidro com etiquetas de metas (“viagem”, “reserva”, “investimento”). Coloque dinheiro real ou papeizinhos simbólicos para representar os depósitos, ou ainda melhor a cada semana acompanhe o crescimento do seu dinheiro no extrato de investimentos de seu banco, pois os juros compostos fazem seu capital se multiplicar. Não tente guardar R$ 500 de uma vez. Comece com R$ 2 por dia. No livro Hábitos Atômicos, James Clear, descreve que hábitos bem-sucedidos começam minúsculos e crescem com consistência. Uma dica prática: Coloque lembretes no celular: “Você guardou R$ 5 hoje?” “Qual foi sua vitória financeira do dia?”

Use uma estratégia chamada “Estratégia do Cheque” que o humorista norte americano Jim Carrey, ator de personagens como no filme Todo Poderoso, O Máscara, Ace Ventura, etc. Ele escreveu um cheque para si mesmo no valor de US$ 10 milhões, antes de se tornar famoso, e o guardou como uma espécie de promessa ou visualização de seu sucesso futuro. O cheque foi datado para o Dia de Ação de Graças de 1995. Anos mais tarde, ele recebeu exatamente US$ 10 milhões pelo filme "Debi & Lóide", o que ele interpretou como a realização dessa visualização. Se não quiser usar o cheque (risos) recompense o futuro com narrativas fortes, crie um personagem para o “você do futuro”. Dê nome, idade, profissão, objetivos. “O Paulo de 50 anos quer viver sem dívidas e tranquilo. Ele agradece o João de hoje por ter poupado.” Faça uma carta para você mesmo no futuro, explicando por que está começando a guardar dinheiro agora. Guarde em envelope ou grave um áudio.

Muita gente não investe por achar que precisa entender tudo de mercado financeiro. Mas o primeiro passo não é técnico — é comportamental. Comece pequeno, mas pensando grande. Não é sobre virar rico amanhã. É sobre fugir das dívidas, dormir melhor, e construir liberdade financeira aos poucos. Se você depende da força de vontade para guardar dinheiro todo mês, vai fracassar. Você precisa de sistema, não de esforço.

Ademais, seguimos juntos, praticando e divulgando a todos uma educação financeira simples e de resultado.

Até breve.

Juscelino Gaio

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