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Após 25 anos atuando no setor financeiro, atendendo os mais variados públicos, desde o segmento de pessoa física, empresas, agricultores e até governo, percebi que mais importante do que explicar taxas ou produtos é entender como as pessoas pensam, como agem e lidam com dinheiro. Para conquistar a liberdade financeira e poder escolher como viver e usar seu tempo com o que quiserem, e o preço que se paga, não é com o conhecimento, e sim com atitude e comportamento. Para ter paz financeira o mais importante é estudar e mudar comportamentos conscientemente para alcançar a meta de ser livre financeiramente através do aprendizado sobre finanças comportamentais.
A teoria econômica clássica partiu do princípio de que os indivíduos agem de forma lógica, sempre buscando maximizar seus benefícios. Mas na prática, isso raramente acontece. Quantas vezes já aconteceu de: comprar algo por impulso e depois se arrepender? Manter um investimento perdendo dinheiro, esperando uma "recuperação milagrosa"? Deixar de economizar porque "sempre sobra mês no fim do dinheiro"? Esses comportamentos têm explicação na psicologia econômica, campo que deu origem às finanças comportamentais.
Nos anos 1970, os psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky desafiaram a visão tradicional da economia. Eles demonstraram, através de experimentos, que: as pessoas têm aversão à perdas (sentimos mais dor em perder R$ 100 do que prazer em ganhar R$ 100). Tomamos decisões com base em emoções, não apenas lógica. Confiamos demais em nossa intuição, mesmo quando ela nos engana. Essas descobertas renderam a Kahneman o Prêmio Nobel de Economia em 2002, e foi o ponto de virada para destravar o caminho para um novo entendimento sobre como administramos nosso dinheiro através do entendimento de vieses cognitivos e heurísticas, dois erros comuns provocados pelas nossas emoções.
Se nossas escolhas financeiras fossem puramente racionais, não existiriam em hipótese alguma: Dívidas de cartão de crédito (juros altíssimos, mas muita gente só paga o mínimo). Compras por impulso ("promoção relâmpago", "últimas unidades!"). Investimentos em modismos (como quem comprou Bitcoin no topo e vendeu no fundo).
É um campo de estudo sempre em evolução e que procura mapear vieses (erros sistemáticos de julgamento), aplicar nudges (pequenas mudanças no ambiente de escolha) e desenvolver metacognição: aprender a monitorar e regular as próprias decisões. Podemos citar um exemplo: o Sr. José e a Poupança “Esquecida”. José abre uma conta poupança, mas “esquece” de transferir mensalmente. O Viés envolvido é o status quo — tende a manter o que já está configurado. O Nudge (incentivo) sugerido: autorizar débito automático para poupança no dia seguinte ao salário.
Um estudo do Banco Mundial mostrou que, mesmo sabendo da importância de poupar para a velhice, menos de 30% dos brasileiros contribuem voluntariamente para a previdência privada. Nesse caso temos dois vieses que provocam este comportamento: Viés do presente: preferimos gastar agora a guardar para um futuro distante; Excesso de confiança: "depois eu começo, ainda tenho tempo."
Saber sobre nossos comportamentos e usar metacognição importa para que possamos ter o máximo de consciência sobre nossos hábitos, como por exemplo: Decisões de consumo. A simples posição de um produto na prateleira ou uma oferta “compre 1 leve 2” acionam vieses como o da ancoragem e da aversão à perda. Agora o jogo do marketing está usando até neuro-marketing, ou seja, estudando como nosso cérebro funciona para aumentar o faturamento das vendas, usando vários gatinhos que aguçam os sentidos e emoções para estimular compras e desejos; Poupança e orçamento: muitos clientes dizem que querem poupar, mas nunca conseguem, pois estão sujeitos ao viés de status quo — preferem manter a rotina, mesmo que ela não renda frutos. Investimentos: oscilações de mercado geram medo ou euforia, levando a compras no topo e vendas no fundo — o oposto do comportamento racional ideal.
As Finanças Comportamentais servem para entender deslizes de irracionalidade, e acima de tudo, corrigi-los, exemplo de que a não consciência sobre seu comportamento pode levar a: Metas não cumpridas: você já prometeu poupar todo mês e, quando vê, nem lembra de transferir nada para a poupança? Investimentos erráticos: bateu aquele medo no meio da queda do mercado e você vendeu ações no pior momento? Compras por impulso: uma promoção “imperdível” basta para encher o carrinho de coisas desnecessárias.
E agora por onde começo? Começamos a ler sobre o assunto e aplicar diariamente. Finanças comportamentais explicam por que tomamos más decisões com dinheiro —mesmo sabendo o que é certo. Consequentemente vem de encontro com que os mais antigos sábios falavam sobre riqueza, que o comportamento e atitude sobre o dinheiro é mais importante que apenas o conhecimento. Não adianta fazer bastante dinheiro se você não consegue guardar para quando tiver imprevistos, logo terá que contrair empréstimos para pagar pela falta de habilidade de gastar menos do que se ganha. Nos próximos artigos abordaremos várias heurísticas e vieses e como usar nudges para incentivar para não incorrer a mais erros que atrasam sua liberdade financeira.
Ademais, seguimos juntos, praticando e divulgando a todos uma educação financeira simples e de resultado.
Até breve.
Juscelino Gaio
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