Onde está o problema da humanidade?
O problema está na família, ou melhor, na ausência dela. A falsa premissa de que o individualismo é bom e que nos bastamos a nós mesmos promoveu uma geração de pessoas Prozac.
As pessoas, hoje, necessitam das muletas psicológicas porque não dão conta de viver sozinhas. E a verdade é que ninguém nasceu para viver sozinho. As facilidades e a riqueza do mundo moderno promoveram acessos e vaidades vãs. Elon Musk, dono da Tesla e da SpaceX, em entrevista, disse que o ser humano já é um ciborgue, aquele meio homem meio robô.
Pois é de se pensar: o ser humano está tão voltado para si mesmo que se perde, vive com o celular como sua extensão (está sempre grudado na mão); vigia a vida das pessoas de maneira cada vez mais odiosa e trabalha por muito mais tempo, e não tem tempo para viver. Chegamos ao cúmulo de postagens de dentro dos próprios banheiros, de todos os ângulos de um hamburguer ou dos próprios pés para indicar que está fazendo uma caminhada (às vezes, só para mostrar os calçados novos). O compartilhamento da vida agora acontece “online”, em tempo real e ainda remunera. Nada de toque ou de carinho ou com aquela gargalhada gostosa. Tudo se dá pela máquina.
A abundância e riqueza da vida trouxe a falsa impressão de que vivemos em sociedade. O que vivemos, na verdade, é uma experiência por detrás de um aparelho celular, deixando as pessoas cada vez mais solitárias, pois bloqueamos sigilosamente aquele que nos incomoda, silenciamos o outro que não nos traz boas memórias e nessa seletividade nos afastamos dos aprendizados.
Convém contar que certa vez, um monge recolheu-se em retiro no alto de uma montanha hindu. Ficou lá a treinar a mente, a paciência e a calma, por 40 dias e 40 noites. Passados os dias, uma jornalista dirigiu-se ao retiro para entrevistar o monge. Após as apresentações a jornalista começou suas perguntas. Perguntado o nome, a idade, o peso, a origem, o porquê daquela vestimenta, a forma de se sentar, na oitava pergunta o monge finalizou a entrevista dizendo que precisava ficar mais 40 dias e 40 noites sozinho. Não estava aguentando a chuva de perguntas.
Na individualidade e na quietude de nosso canto, não enfrentamos nada, não compartilhamos experiências, não dominamos nossos ímpetos em face do outro, não precisamos “aguentar” o outro. Apenas promovemos a própria vontade e solidão que gera vazio, que gera tristeza, que gera dor, que gera angústia. Temos tudo e não temos nada.
Muitos de nós fomos criados para sermos individualistas, os melhores, os capazes, os que não se misturam porque são bons demais e por isso não encontramos amigos ideais, não encontramos o parceiro perfeito porque aquele que me basta é inatingível à minha qualidade. Ou, então, estamos sendo criados largados e terceirizados porque a família, os pais estão ocupados demais, estão longe mesmo na mesma casa, estão ausentes em seus próprios objetivos e portanto, estamos sendo doutrinados pelo Estado para sermos qualquer coisa desde que sirvamos ao propósito estatal.
A família está falhando e por isso está em decadência, está criando filhos supérfluos e que não conseguem sobreviver ao outro. Estamos terceirizando a função parental. Pior ainda, estamos formando famílias frágeis, por relações tidas por desejos carnais e não por amor a constituir uma família. Os filhos são fruto da libertinagem. O resultado mundano não poderia ser outro senão o que vemos diariamente.
Precisamos nos reabilitar, sair das peias e buscar o elo rompido, com o princípio de amor ao próximo que um dia já tivemos e voltar a formar famílias dedicadas e amorosas.
O mundo precisa se regenerar.
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