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Tempo de aprender

 

Tempo de aprender

As deformações intelectuais em assuntos simples mostram uma realidade mundana cada vez mais rasa.

É certo que não precisamos ter uma opinião sobre tudo e até é algo realmente difícil. Porém, mesmo tendo (essa opinião) nem sempre precisamos apresentá-la como um parecer inadiável, especialmente porque muitas vezes nossas opiniões são vãs e rasas. Outras e não raras vezes nossos pensamentos baseiam-se em outras opiniões ainda, aquelas postadas em pequenos quadros da rede social.

O entendimento pede calma e tempo, pois quando tudo é urgente nada é importante. Mas hoje a relutância ao aprendizado mais profundo toma conta dos altos escalões. Há uma competição acirrada e silenciosa. Ninguém ensina e ninguém aprende. A troca entre seres humanos em evolução está estacionária.

Muitos teóricos são nada mais nada menos que apenas pessoas caricatas falando absurdos, mas falando com força de autoridade, com retórica que convence e ganhando adeptos por mera adesão à hipocrisia. Todos sem qualquer conhecimento, mas com a persuasão da palavra.

É a internet que dá força à essas pessoas. É assustador o crescimento dos tais ‘influenciadores’. Influência no quê?   

Nos anos 1950, Dwight Macdonald já previa o que ele chamava de "midcult": uma cultura intermediária que fingia profundidade, mas que, na verdade, era uma versão diluída e inofensiva da Alta Cultura. O que ele via nos romances de sucesso e nos filmes de Hollywood de sua época é o que hoje se multiplicou à exaustão em muitas plataformas de streaming. Um filme não precisa ser bom, apenas "assistível". Uma música não precisa ser bela, apenas "pegajosa" com aquele ‘rit’ que gruda. O conteúdo não precisa ter substância, apenas manter você engajado tempo suficiente para que o algoritmo perceba seu padrão de consumo e possa oferecer mais do mesmo. A rede social é um local de venda de produtos (publicidade) não um local de desenvolvimento pessoal.

Faz tempo que parte do entretenimento produzido é um anestésico cerebral. Um conteúdo para amortecer a consciência. São páginas e páginas na internet sem conteúdo verdadeiro. O mundo está com preguiça e está ficando mais e mais burro.

E o pior, os fracos tomaram o poder e estão enfraquecendo os fortes. O padrão mundial, e, especialmente no Brasil, o foco é arrastar todos para a mediocridade, para o raso, para a forma simplificada, reduzida. Estão todos se esvaziando.

Há muitos no lugar de poder que esnobam arrogância e ignorância quando o essencial é o simples, é reconhecer que precisamos aprender, estudar, focar, dedicar-se.

Hoje todos estão sentindo-se em postos de poder, mas não sabem conversar, enxergar ou argumentar. Os poderosos hoje, e isso, certamente inclui o poder estatal, não quer incluir pessoas no universo do saber, mas evacuar e amedrontar até que não reste nada. Aliás, o que resta será sempre manipulado ao bel prazer de uns poucos poderosos para que mantenham o sistema.

O foco da indústria dos ‘likes’ criou um mundo paralelo que não existe, como se ali, dentro da rede social, todos fosse experts e eruditas.

Tanto na rede ‘X” (antigo Twitter) como agora no Instagram e no Facebook está sendo revelado que os algoritmos têm contribuído para a proliferação desse ecossistema de burros, influenciando decisões, escolhas, numa rede meticulosa de manipulação.

Todos os dias, nós recebemos – desde as novelas da Globo da década de 80 até hoje nos reels do Instagram – pequenas doses de dopamina, distração e distanciamento da realidade. Um ciclo vicioso que está fomentando a inveja, a depressão, o tédio, as cópias mal-acabadas o ódio por diferenças sociais, morais e biológicas.

Há poucos dias, uma bela mãe pomerana foi alvo de ameaças por conta de um vídeo que falava de seu bebe ‘alemão’, nascido em Pomerode, para quem viu o vídeo, só não é mais alemão que os que nasceram lá na terra europeia.  Porém, podemos refletir que na mesma medida que eu posto qualquer coisa trivial, sem qualquer pretensão mais moral ou digna, no mesmo senso haverá os mais inúteis a criticar, pois estamos na era dos podres de mimamos, da legião do mal e da militância que se ofende com o belo.

As pequenas mentiras do dia a dia perfeito da internet estão nos distanciando das pessoas, de conhecê-las e da capacidade de sermos melhores, de aprendermos um com o outro. Pelo jeito o melhor caminho é largar a rede social e segurar um livro e o jornal. Aqui, teremos, pelo menos reflexões que podem nos despertar à busca do conhecimento mais aprofundado.

Avante! Nach Vorne!

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