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CONVERSA AFIADA

O casamento pode mudar o mundo – PARTE I

Para mudar um país é preciso primeiro mudar a gênese da vida social: a família. Na família se tem o recurso terapêutico necessário para a prática da moral e do amor, cujo resultado é a felicidade. Nossa conversa afiada será dividida em duas partes. Uma nesta semana e outra na semana que vem, porque o assunto é complexo, mas necessário.

Para que uma família tenha sucesso é preciso que sua formação se dê dentro de certos valores e princípios que com a ‘evolução’ social parecem ter ficado para traz. Uma família se forma pelo casamento ainda que hoje sejam admitidas todas as formas de família (monoparental, reconstruída, conjugal, etc.). Mas, hoje, vamos seguir pela análise do romance russo de Liev Tolstói, publicado em 1877, denominado ‘Anna Karenina’. Esse livro que virou filme, traz importante reflexão sobre o casamento e a felicidade, porque pela união através do casamento, de fato, haverá uma evolução social, com princípios éticos estabelecidos.

O livro e sua adaptação em filme de mesmo nome, inicia trazendo a seguinte afirmação: "Todas as famílias felizes são iguais, as infelizes são infelizes cada uma a sua maneira". Assim, é importante lembrar que todo o contexto ocorre num momento histórico de muitas transformações políticas e sociais que refletem na instituição do casamento e o que é entendido como felicidade. Como ter felicidade no matrimônio?

A obra cuida de três contextos familiares, no qual o primeiro dispõe sobre a manutenção do casamento mesmo diante da descoberta da traição (irmão de Anna Karenina). O outro, o casamento de Anna Karenina que possui a aparência de um casamento sólido, porém, com um marido frio e focado nos deveres sociais e familiares, que em determinada oportunidade Anna se coloca em paixão com Vrosky criando um triangulo amoroso. E, o terceiro casal retratado, trata de dois jovens, Liev e Kitti, que vão construindo a relação através do conhecimento e amadurecimento. 

Considerando os inúmeros divórcios da atualidade é interessante as observações do livro e do filme (ainda que conciso) pois ali se apresenta em crítica – desde 1877 – que o divórcio surge como tentativa de solucionar a infidelidade conjugal numa busca incessante pela felicidade. Veja-se que isso é exatamente a mesma disposição a justificar os inúmeros divórcios dos tempos ‘modernos’.

Dos três relacionamentos tratados no livro é de se observar que o relacionamento do irmão e da cunhada de Anna, existe sentimento, afeição, porém, não há – por parte do marido – a manutenção dos deveres conjugais, não apenas com relação à fidelidade, mas com relação aos deveres de pai, de gestor de uma família, de hombridade. Se não existe isso em casa, no lar, muito menos nas relações sociais.  

Já na relação de Anna Karenina, Anna tem um marido frio, mas que a apoia e é totalmente focado nos deveres matrimoniais mesmo que não demonstre amor e afeição ao cônjuge. Em contraposição entre marido e amante, dois extremos, Anna vive uma ardente paixão na busca pela felicidade que a coloca em infelicidade. Primeiro, porque ela se sente culpada e ‘oprimida’ pela bondade do marido que mesmo diante da traição a ajuda; segundo, porque vive na incerteza da felicidade com o amante por uma possível infidelidade do amante uma vez que tudo se iniciou por paixão ardente, não amor, notadamente diante do egoísmo e de sua própria vaidade.

O cerne da questão é a colheita do vazio existencial que paixões podem proporcionar, seja por um casamento arranjado por fins patrimoniais ou por paixões que não possuem o mínimo do dever social e moral presente para que se possa efetivamente ter um casamento feliz.

De onde vem o alcance da felicidade no matrimônio? Porque o matrimônio é tão importante ao contrário do que o mundo moderno, leia-se feminismo, prega? Uma única coisa traz felicidade?

O relacionamento do livro que melhor destaca a construção de um casamento é pelo relacionamento de Liev e Kitti. Liev pede a mão de Kitti em casamento recebe um não porque Kitti está apaixonada por Vrosky (o amante de Anna Karenina). Diante do sofrimento tanto de Liev pelo ‘não’ a proposta de casamento, quanto de Kitti por Vrosky ignorá-la por Anna, traz o ganho de consciência através da doação e trabalho. Tanto Kitti quanto Liev focam suas frustrações no desenvolvimento do trabalho. Ali, no trabalho há a compreensão de que existem sofrimento mais intensos e isso se chama amadurecimento.

De todas as reflexões importantes deve-se destaque ao diálogo entre Liev e o Padre sobre o casamento, quando o Padre diz para ele que “Casamento pode ser a experiencia mais dolorosa da vida. Na verdade, será. Significa morrer e renascer na carne de outra pessoa. Você não saberá o limite entre você e sua esposa. O que ela quer e o que você quer. O casamento é algo tão incerto, desconfortável e uma jornada tão perigosa que se Deus não nos acompanhasse eu não recomendaria para ninguém.

Isso significa exatamente que o casamento é um processo de troca constante. Que não há espaço para egoísmo. Que é preciso abdicar de si pelo outro. Sim, você deixa de ser inteiramente você para ser um pouco do outro. Que ali, no casamento, é onde se praticam todas as virtudes do ser humano: resiliência, abnegação, caridade.... e tudo isso somado se traduz em amor.

O relacionamento é um processo e felicidade são períodos. Todos experimentamos conflitos. Você nunca terá felicidade plena! Mas no casamento consciente nunca estará sozinho ou desamparado.

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