logo RCN
CONVERSA AFIADA

Existe conservadorismo no Brasil?

Se você pensa que ser religioso, votar em políticos de ‘direita’, ser contra aborto ou ser pró arma te torna conservador, você está totalmente enganado. Ter uma religião não te torna conservador, apenas religioso. O brasileiro tem costume de ser raso e afirmar coisas sem saber absolutamente nada.

A “Conversa Afiada” de hoje é baseada nas aulas de Bruno Garschagen que é dedicado ao estudo do conservadorismo há mais de 10 anos, portanto, são informações valiosas de quem conhece bem o assunto.

Na internet ser conservador é ser retrógrado, antiquado, preso ao passado ou ultrapassado. Nas salas de aula é ser contra o meio ambiente, contra a luta racista, contra a dignidade das mulheres, contra a igualdade. Na mídia há apenas ultraconservador, extrema direita, radical, negacionista.

O conservador não trata de teses abstratas, mas de fatos reais da sociedade. Tratar com inteligência a política e tem virtudes conservadoras como o desenvolver individual de virtudes e ceticismo político.

O ceticismo é a certeza de que o conhecimento político que se pode adquirir, além de limitado, deve ser articulado diretamente com a prática, sendo absolutamente dependente da vida concreta em sociedade. Ou seja, não tenham político de estimação, especialmente, porque a pós golpe da República tivemos 49 anos dedicados a ditadores (não apenas 1964).

Teses políticas abstratas e desvinculadas da experiência real de sociedade não fazem parte do conservadorismo. E é somente por meio de um contato aprofundado e bem-ordenado com o verdadeiro pensamento conservador que você poderá desconfiar – com inteligência – de políticos e projetos que afrontam esse tipo de ceticismo. O brasileiro médio não conhece o verdadeiro conservadorismo.

Para Bruno Garschagen, o conservador tem uma concepção de ordem, autoridade, liberdade distinta das demais posições políticas. A liberdade está associada à responsabilidade, que está vinculada à autoridade e, portanto, à ordem. A própria ideia de ordem, por exemplo, é entendida a partir de três tipos de ordem: ordem transcendente, ordem interior (espiritual e individual) e ordem exterior (social, política, etc.). No âmbito político, haverá momentos em que a solução é mais liberdade e, outros, em que a solução é mais ordem, mas ordem e liberdade, insisto na concepção conservadora e não, por exemplo, a que existe na cultura republicana autoritária no Brasil. E é por isso que somos uma nação de pessoas que não sabem como lidar com a política.

A certeza de que somos imperfeitos é um dos fundamentos do conservadorismo. A partir dessa posição, o conservador enxerga e se relaciona com as outras pessoas sabendo que ninguém é perfeito, mas que todos devem se esforçar para ser virtuosos e superar os vícios que nos seduzem a cada instante.

Também a partir dessa perspectiva da imperfectibilidade do homem, o conservador sabe que ideologias políticas e projetos de poder que tentam criar um homem perfeito e um mundo ideal estão fadados ao fracasso e que resultarão em autoritarismo, totalitarismo, violência, morte.

A imperfeição humana também é fundamento da visão conservadora sobre três de seus principais pilares: o tradicionalismo, o organicismo e o ceticismo. E a relação entre eles, como nessa explicação de Anthony Quinton no livro The Politics of Imperfection, deve orientar a reflexão e ação individual e comunitária dos conservadores:

“A imperfeição moral do homem requer que ele faça parte de uma sociedade mantida por costumes e instituições tradicionais (tradicionalismo) e que, na medida em que ele é um ser moral e que sua sociedade é estável e satisfeita, ele realmente o é (organicismo). Sua imperfeição intelectual significa que o conhecimento político ao qual ele tem acesso é limitado, prático e socialmente dependente (ceticismo), especialmente diante da complexidade do sistema social (organicismo) e, portanto, mudanças politicamente induzidas na sociedade devem ser contínuas e graduais (tradicionalismo). A partir de direções distintas, as duas imperfeições convergem no primeiro princípio, o tradicionalista, que é o mais importante dos três.”

Em resumo, ser conservador é ter, sim, respeito ao passado para que as mudanças se deem de maneira paulatina e em total harmonia com a necessidade e realidade da sociedade, sem movimentos abruptos ou revolucionários com a ‘esperança’ de resolver diferenças que são totalmente intrínsecas à natureza humana e da dicotomia planetária e, sobretudo, uma mudança virtuosa e moral de cada um internamente para depois mudar o mundo.

Por fim, trazendo Garschagen:

“Quando a irracionalidade é a regra, o conservador deve agir com racionalidade;  Quando a paixão política é o padrão, o conservador deve agir com ceticismo; Quando o autoritarismo vigora, o conservador deve combatê-lo e neutralizá-lo; Quando a destruição é o hábito, o conservador deve agir como construtor.

É responsabilidade do conservador agir dessa forma mesmo que tudo ao seu redor seja instabilidade, crise, autoritarismo, desordem, desolação.

E o conservador só conseguirá fazê-lo se construir no dia a dia a sua ordem interior, por meio das virtudes cardeais e teologais, para assim conseguir vencer a desordem exterior.”

Então, o brasileiro não é conservador.

Dilma é inocente? Anterior

Dilma é inocente?

Não diminua seus pais Próximo

Não diminua seus pais

Deixe seu comentário