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Conversa Afiada

Aposta

Eu poderia fazer uma aposta com alguns mil reais que 70% da população adulta de Ascurra e mais de 90% dos estudantes do ensino médio não sabem absolutamente nada sobre a cidade em que nasceram ou que decidiram morar.

Aliás fica a dica para que os municípios, não apenas Ascurra, mas também Apiúna e Rodeio passem a exigir história e geografia local na grade curricular das escolas.

Ascurra faz seu 61º aniversário e, para alguns, é uma data que sequer sabem como foi definida. Apesar de a emancipação ter ocorrido em 1963 quando o distrito pertencente à Indaial passou a ser município com administração própria, nossa história começa muito, muito antes, lá na época do império.

A Casa Buzzi foi a residência do primeiro morador e fundador da atual cidade de Ascurra. Em 1875 chegaram os primeiros imigrantes italianos à cidade de Blumenau. Quando chegavam, os imigrantes ficavam em barracões que eram uma espécie de “Casa de Recepção aos imigrantes”.

Em 1874 o Governo imperial mandou agrimensores demarcar lotes às margens dos Rios da região cuja administração de toda a colônia era do Dr. Hermann Otto Blumenau. Na época, também chegaram muitos sacerdotes para a assistência religiosa, dentre eles o Pe. José Maria Jacobs e Pe. Angelo Alberti (este fundou a primeira escola em Ascurra). Com esse movimento iniciaram as divergências religiosas: padres jesuítas, franciscanos e pastores.

De 1876 até 1879 chegaram à Colônia de Blumenau 852 descendentes italianos que foram localizados às margens do Ribeirão São Paulo e Guaricanas em Ascurra e Neisse e Subida em Apiúna, ao comando do Dr. Blumenau.

Em 15 de novembro de 1876 o próprio Dr. Blumenau assinou e entregou os contratos de compra e venda dos primeiros 10 lotes localizados no Ribeirão São Paulo, sendo o lote nº 5 adquirido por Giovanni Buzzi (posteriormente também o lote 1-A).

Giovanni Buzzi foi o primeiro a fixar-se às margens do Ribeirão São Paulo e foi reconhecido por seu senso político, econômico (pioneiro na plantação de arroz) e seu desenvolvimento em organização social que exercia com naturalidade. Por essas qualidades, o Dr. Blumenau o incumbiu de liderar os desbravadores da Colônia São Paulo (Ascurra), portanto, nomeado Inspetor do quarteirão, ou seja, a mais alta autoridade na linha colonial.

Chegou da Itália com esposa e seis filhos, tendo mais quatro filhos em seu lote, nas margens do Ribeirão São Paulo, hoje bairro na atual Ascurra.

Ali, em seu lote nº 5, após quase dez anos, construiu a “Casa Buzzi”, no ano de 1886, cujo projeto arquitetônico é fiel aos padrões rurais italianos, considerada uma mansão.

Giovanni Buzzi é o fundador de Ascurra, assim reconhecido pela Câmara Municipal de Ascurra no ano de 1975 e cuja prole também prosseguiu com feitos importantes ao município. Seu neto, José Buzzi, foi o primeiro prefeito (nomeado) de Ascurra.

A Casa Buzzi foi palco de arranjos políticos e era o local para a recepção das autoridades eclesiásticas.

Destaca-se o episódio do Padre José Maria Jacobs que foi o primeiro Sacerdote que visitou Ascurra em 1877.

Segundo o histórico, o Pe. José Maria Jacobs era autoritário e intolerante, continha inimizade com os pastores e próceres luteranos e era um monarquista ferrenho e convicto. Para quem não lembra até o golpe republicano de 1889 o Brasil vivia uma monarquia. Em todas as suas visitas à Colônia de São Paulo, o Padre José Maria, hospedava-se na “Casa Buzzi”. Como monarquista defendia ardorosamente os conservadores contra o regime republicano que tomava conta do país e ainda se sentia inconformado com a separação da Igreja e do Estado. Por essas razões teve três processos contra si, sendo um deles por celebrar um casamento religioso antes do casamento civil, cuja condenação determinou sua prisão por três meses. Expedida a ordem de prisão, Giovanni Buzzi, dedicado e fiel amigo do Padre, reuniu 7 colonos mais dois de seus filhos foram ao encontro do Padre, o vestiram como colono e à noite, para não despertar atenção, o trouxeram para a “Casa Buzzi” onde debaixo da escada, abriram um buraco para um sótão onde esconderam o padre. Por 17 dias o Padre foi protegido por Giovanni Buzzi e mais 90 colonos que se revezaram. Em 1º de março o padre foi preso após a traição de Guilherme Engelke. Antes mesmo de chegar à prisão, Dr. Hercílio Pedro da Luz (na época agente de terras, após Governador do estado de Santa Catarina) havia prestado fiança pelo Padre que foi solto.

Não há como falar da formação da cidade de Ascurra, sem falar em Giovanni Buzzi e sua casa, mesmo que nossa emancipação tenha ocorrido quase 150 anos depois de seu primeiro morador.

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