logo RCN
OPINIÃO

Deus, Pátria e Família

Entre a Retórica e a Realidade

  

Observamos que princípios elevados a lemas podem se tornar escudos para mascarar ou esconder as verdadeiras intenções. "Deus, Pátria e Família" são os três pilares que nos levam a pensar em valores nobres, mas que, na prática política brasileira são frequentemente distorcidos e instrumentalizados. Há, de um lado, aqueles que, em nome de um ex-presidente e de sua plataforma, ergueram essa bandeira com fervor, prometendo resgatar uma moralidade perdida e uma ordem que, segundo eles, estaria em xeque. De outro, assistimos a vozes que, no fervor da defesa do atual regime, parecem dispostas a destruir um dos pilares mais caros de qualquer democracia: a livre expressão do pensamento.

Analisemos aqueles que se abrigaram sob o lema "Deus, Pátria e Família". Quantos, em nome desses ideais, não vimos ascender, pregar moralidade e exibir um patriotismo inflamado? A retórica era firme: a família tradicional como base inabalável, Deus como guia supremo e a pátria acima de tudo. No entanto, a realidade, como um espelho implacável, tem revelado uma face bem diferente para muitos desses paladinos. Casos de corrupção, desvio de conduta, discursos de ódio travestidos de "sinceridade" e uma notável falta de compromisso com a verdade factual têm manchado essa imagem cuidadosamente construída. A hipocrisia, meus caros, torna-se gritante quando aqueles que erguem a bíblia em público são flagrados em atos que contrariam seus próprios sermões. Que família defendem os que promovem a desinformação e o ataque pessoal? Que Deus é invocado quando a caridade é substituída pela intolerância e pela exclusão? Que pátria é enaltecida por quem flerta com a desordem institucional e a desmoralização das instituições democráticas? O verdadeiro patriotismo não se mede apenas por um hino cantado ou uma bandeira ostentada, mas pela integridade nas ações e pelo respeito às leis e aos concidadãos.

Por outro lado, o cenário atual nos apresenta um desafio igualmente preocupante. Em nome da estabilidade e da governabilidade, assistimos a uma crescente onda de críticas e, por vezes, de zombaria direcionada àqueles que ousam divergir, que expressam preocupações ou que simplesmente utilizam seu direito de criticar. O discurso, que deveria ser um espaço de troca e debate, corre o risco de ser silenciado sob a alegação de "combater a desinformação" ou "proteger a democracia". É fundamental que qualquer regime, por mais bem-intencionado que seja, compreenda que a liberdade de expressão não é um favor, mas um direito inalienável. A crítica, mesmo a mais ácida e incômoda, é um termômetro da vitalidade democrática. Zombar, deslegitimar ou, pior ainda, tentar cercear a voz do diferente é um caminho perigoso que, historicamente, pavimentou o terreno para regimes autoritários.

É preciso um olhar honesto para a nossa própria imagem. A retórica sem lastro na ação é uma farsa, e a defesa da democracia que sufoca o dissenso é uma contradição em termos. Não podemos permitir que a nobreza de princípios como "Deus, Pátria e Família" seja sequestrada por interesses escusos ou que a busca pela ordem ignore a importância do debate plural. O desafio que se impõe é o de resgatar o verdadeiro significado desses pilares, ancorando-os em ações íntegras, no respeito às diferenças e na defesa intransigente das liberdades fundamentais, especialmente a da expressão. Somente assim poderemos construir uma sociedade verdadeiramente justa e democrática, onde a coerência e o respeito prevaleçam sobre a hipocrisia e a intolerância.

Deus, Pátria e Família Anterior

Deus, Pátria e Família

A Corrupção que Assola o Brasil: E se ela estiver na sua porta? Próximo

A Corrupção que Assola o Brasil: E se ela estiver na sua porta?

Deixe seu comentário