Começar a coluna desta primeira Conversa Afiada de 2023 é bastante desafiador.  O caráter social do ser humano, não apenas no Brasil, mas no mundo é um desafio comportamental digno de estudo no campo da sociologia e psicologia. Estamos numa nova era difícil de contornar e entender com a superficialidade das ideias e afirmações com que as pessoas se posicionam firmemente.

Desde 2014 com a vitória de Dilma Rousseff começaram os panelaços, as manifestações, a chuva de opiniões ‘certas’ sem conhecimento algum, baseado apenas em uma dedução pseudointelectual.

Na obra Psicologia das multidões (WMF Martins Fontes), de 1895, Le Bon escreveu: “Nas grandes multidões, acumula-se a estupidez, em vez da inteligência. Na mentalidade coletiva, as aptidões intelectuais dos indivíduos e, consequentemente, suas personalidades se enfraquecem”. É como se, ao se unir aos seus pares, as pessoas deixassem de usar a razão e passassem a deixar a emoção tomar conta em uma segurança conjunta inexistente, tornando-se presas fáceis de manipuladores.

Faltam 72h.

Até agora estou tentando entender esse período, pois realmente busquei na legislação e não vi absolutamente nada relacionado. Foram muitas conversas afiadas aqui alertando para o perigo da esquerda e, especialmente, alertando com relação ao Congresso Nacional e o caminho ordeiro para se seguir e enfrentar a crise proclamada.

Realmente nada justifica a invasão, depredação e destruição do patrimônio público. Concordamos que o tal Estado Democrático de Direito sempre foi uma mentira brasileira e já foi corrompida há muito tempo, desde o Golpe da República em 1889. Porém, a legitimidade das ações não pode ser aferida ante as barbáries que se vê nos vídeos e fotos.

Eu também não concordo com esse Governo corrupto, muito menos com o nível apresentado para direção dos Ministérios e realmente vejo uma Suprema Corte que não usa mais a Constituição (há uma lista gigantesca das arbitrariedades efetivadas pelo STF). Estamos vivendo um momento anárquico assustador tanto por parte das instituições como por parte da população inclusive a população que se diz ‘de bem’.  

O homicídio existe desde que Caim matou Abel (primeiro assassinato da História) e ainda continua sendo crime punido pelos homens e pelo próprio Deus. Ou seja, uma coisa errada mesmo que feita milhares e milhares de vezes continua errada.

Sim, o MST (Movimento sem-terra) invadiu a Câmara dos Deputados e o STF em nome da reforma agrária e depredaram patrimônio público e foram tratados com mais dignidade, todo criminoso é tratado com mais dignidade que as pessoas apreendidas no domingo. Mas, exatamente por essa trajetória já vista é que não se pode relativizar e justificar erros sucessivos. Um erro não autoriza outro.

O caos sempre favorece quem é organizado e a esquerda é organizadíssima. As mídias estão tratando com unanimidade o caso como uma tentativa de depor um Governo legitimamente constituído chamando os vândalos de terroristas. O que não procede, pois a lei de terrorismo não contempla motivação de ‘ideologia política’ (sem contar que o governo legitimamente constituído também é questionável, convenhamos!). Mas, há muitos crimes cometidos no dia 08.01 sem qualquer dúvida. 

Algo precisava acontecer e aconteceu e “eles” (os mais corruptos e criminosos da história do país) saíram como mocinhos e, certo de que subverterão a história. O preço será muito alto. Lula e o Estado saíram fortalecidos e com a possibilidade de intensificar as barbáries feitas em nome da democracia.  Atos de censura e perseguição já verificados serão ainda mais comuns. Dias mais difíceis virão e a janela de oportunidades da esquerda está enormemente aberta.

O fato de ter muitas coisas positivas no Governo de Bolsonaro e de o mesmo ter tido apoio de diversas correntes políticas pode nos colocar todos no mesmo barco porque é preciso separar o joio do trigo.

Preparem-se, a temporada de caça às bruxas está oficialmente aberta. E lembrem-se, política não e para amadores.