
Saber lidar com o dinheiro é assunto que deve ser introduzido aos poucos à rotina das crianças. Os hábitos das famílias mudaram bastante com o passar do tempo. Quem, como eu, viveu a época que a mãe dava o dinheiro, escasso, para ir até a vendinha comprar aquele item que estava faltando para o almoço, que com sorte, sobrava uns centavos de cruzeiro real, que trocávamos por balas. E que época boa!
Hoje está tudo mais fácil, os mercados muitas vezes ficam o dia inteiro abertos, e já não vejo mais tanta criança ajudando seus pais nas compras. A educação, seja ela, didática, de vivência ou financeira, deve abranger todas as experiências da vida cotidiana.
A educação financeira pode ser introduzida à rotina das crianças a partir dos 3 anos, período em que elas começam a entender o que é o dinheiro. Quem nunca presenciou uma birra de criança em um supermercado ou uma loja, daqueles espetáculos mais trágicos, em que a criança se joga no chão e os pais não sabem o que fazer. É nesse momento que os pais devem ensinar a diferença entre necessidade e desejo. Claro que para uma criança, a partir de três anos, é difícil assimilar isso, mas a frustração também faz parte do aprendizado. É preciso repetidamente explicar o valor das coisas e que existe um momento certo para comprá-las.
Volto a dizer, que os hábitos estão bem mudados. Antigamente tínhamos datas específicas para ganhar presentes. Páscoa, Aniversário, Dia da Criança e Natal. E nossos presentes, muitas vezes eram artigos de vestuário, como tênis, calça para ir à escola, camisetas, e as mães adoravam... Hoje não só os pais, mas as crianças têm bastante acesso a muitas coisas, e em especial, são “presenteadas”, sem ter uma data específica.
Desde 2020, a Educação Financeira tornou-se uma disciplina obrigatória em todas as escolas do Brasil, incluída na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e pode ser aplicada de forma transversal a partir das séries iniciais, nos conteúdos de todas as matérias, principalmente em matemática e nas Ciências da Natureza. Lembram quando, na escola, a professora montava um mercadinho com dinheiro de papel, para “brincarmos” de fazermos as compras e pagar? Era tão divertido!
A partir do 5º ano é possível aprofundar estes conceitos e habilidades, como orçamento e planejamento financeiro. Alguns projetos escolares podem ser desenvolvidos, como o empreendedorismo, em que de forma real e lúdica, os alunos definem um objeto para venda, e fazem todas as etapas, desde a análise de mercado, aquisição, formação do preço de venda, a venda e apuração dos resultados. O objetivo é que os estudantes desenvolvam competências para lidar com questões financeiras, no dia-dia e na solução de pequenos problemas, de forma lúdica e prática. Volto a dizer, as coisas estão muito mudadas, o maior acesso à tecnologias, têm “despertado” ainda mais as crianças e jovens. “Pensar fora da caixa”, esse é o objetivo, ou seja, desenvolver habilidades, pensar diferente para as mais distintas situações.
A “mesada” deve ser introduzida na vida dos jovens adolescentes. Em que momento? Isso são os pais que devem perceber, é um processo gradativo. Tem crianças que demoram a ter responsabilidades, outras são mais “desligadas” em relação ao dinheiro. Uma das principais responsabilidades é aprender a guardar seus pertences. E, um dos primeiros momentos da introdução financeira é presentear a criança com um cofrinho, e ensiná-la a guardar as moedinhas. Parando para pensar, um simples cofrinho pode ensinar muita coisa para uma criança. Primeiramente o valor do dinheiro, a importância de poupar, a responsabilidade de guardar, planejar para realizar sonhos, disciplina, persistência e mostrar que todas as moedas valem, que somadas, elas rendem um bom montante.
A partir da adolescência pode-se oferecer mesadas maiores, fazendo o jovem desenvolver maior independência, como designar algumas tarefas de compras, aquelas que suprem suas necessidades do dia a dia, como roupas e materiais escolares. É uma forma de incentivá-las a cuidar de seu próprio dinheiro. Pode-se abordar temas mais avançados, como orçamento e planejamento financeiro, registro das despesas, ensinar sobre os serviços bancários disponíveis, movimentação de contas bancárias, saques, extratos, pix, depósitos, economia, finanças, impostos, aplicações financeiras, taxa de juros e inflação.
Aprender a controlar os gastos e a gerir o fluxo do dinheiro é a chave para a prosperidade. Quando falamos em “lidar com o dinheiro”, não é somente sobre o custo e o valor das coisas, mas é desenvolver valores éticos e sociais, compreendendo a real relação entre o dinheiro e a vida cotidiana, considerando todas as dimensões: sociocultural, política e psicológica. Entender os princípios básicos de que, não se gasta mais do que se ganha, a importância de poupar e ter uma reserva financeira.
Tudo muito bom no papel até aqui. Tem uma expressão antiga que diz: “a fruta não cai longe do pé”. O que quero lhes dizer é que, desde o nascimento, somos o primeiro exemplo para os nossos filhos ou para os que compõem nossa família. Somos exemplos e temos pessoas que diariamente se inspiram em nós, ou seja, para ensinar isso tudo que lhes falei hoje, é preciso que os pais tenham essa consciência financeira e sejam controlados. Aqui não estou dizendo de um regime rígido e estressante, de que o dinheiro seja o mais importante ou que ele represente um peso em nossas vidas. Sempre incentivo meus filhos, mostrando-os que: é do trabalho que vem o dinheiro.
Ao trabalhar, vamos lá e cumprimos nosso objetivo e voltamos para casa, diariamente. Ora, é uma troca. A gente vende nosso “serviço” e recebemos dinheiro por isso. Com este dinheiro, mantemos nossas vidas, nossas necessidades básicas, investimos, adquirimos bens e realizamos tantos outros sonhos. É o poder da escolha, desde pequeno. Não se pode ter tudo. Muitas vezes temos que tomar decisões, abdicar de algumas coisas para poder alcançar outras. Lembram da criança lá, fazendo birra na loja? É sobre isso. É mostrar desde muito pequeno, que as recompensas vêm, mas não é sempre que dá. Chorar faz bem, lubrifica os olhos, amadurece internamente e ensina a criança a lidar com as suas frustrações e emoções.
Ademais, seguimos juntos, praticando e divulgando a todos uma educação financeira simples e de resultado.
Até breve.
Juscelino Gaio
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