Plano Real 30 anos - Parte II

Semana passada abordamos o Plano Real, a implantação da moeda que mudou a posição do Brasil de maior país de inflação mundial. Antes, a inflação crescia até quando não tinha nem motivo para aumentar, o custo de vida era inflacionado diariamente, era hábito não guardar nada e comprar tudo de uma vez, daí que vem o hábito de fazer comprar mensais, o chamado “rancho” no sul do Brasil. Foi um plano feito em três fases distintas de: Metas Fiscais - enxugamento do orçamento e ajuste com aumento da receita e redução de despesas governamentais com privatização pra gerar caixa e atração de investimentos inclusive estrangeiros - ; Implantação da moeda indexada ao dólar URV e Unificação da URV em Real, que fez a moeda brasileira praticamente zerar a inércia da correção diária do aumento, quase que automático de preços, pela própria falta de previsibilidade da economia.
A nova moeda, já no primeiro ano de implantação, teve a inflação pelo Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que é a taxa de inflação oficial para meta de inflação no Brasil, entre de julho de 1994 à julho de 1995 no valor de apenas 33% ao ano, enquanto que esse índice um ano anterior ao plano, foi de incríveis 4.922,46%, um mês antes da implantação, CR$10.000,00 (dez mil cruzeiros reais) valiam R$ 502,25 URV (unidades reais de valor).
Após os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (FHC), passados por crises mundiais e de terminado os testes de stress da nova moeda, foi deixado pela sua equipe econômica a receita para estabilidade econômica, que foi a defesa do TRIPÉ MACROECONÔMICO com seus três pilares a saber:
1. Metas de Inflação: Estabelecimento de uma meta anual de inflação, com o objetivo de manter a estabilidade dos preços. O Banco Central do Brasil (BCB) tem a responsabilidade de usar a política monetária (principalmente a taxa de juros) para garantir que a inflação permaneça dentro da meta estabelecida. A meta de inflação para 2024 é de 3% ao ano com tolerância de 1,50% para baixo ou para cima, e a meta SELIC 10,50% ao ano.
2. Superávit Primário: Adoção de uma política fiscal que busca gerar superávits primários (saldo positivo nas contas públicas, excluindo o pagamento de juros da dívida). O objetivo é garantir a sustentabilidade fiscal, reduzindo a relação dívida/PIB ao longo do tempo. O resultado primário é formado pelo saldo entre as receitas com tributos e as despesas públicas. Não considera o pagamento de juros da dívida. Apesar da tentativa de perseguir o Superavit Primário atualmente o governo no acumulado do ano, o resultado primário apresentou um déficit de R$ 27,5 bilhões, a preços constantes de maio, ante o superávit de R$ 3,2 bilhões no mesmo período de 2023 segundo dados registrados no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), do governo federal. Assim é provável que o governo precisará aumentar a dívida pública se não equalizar essa diferença de aumento de receita menor que aumento da despesa. Segundo estimativa da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a dívida pública do Brasil deverá atingir 80% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2024 e atingirá 90% em 2047 se nada for feito e continuará a trajetória do endividamento se não for feito implementação da agenda de reformas com redução do alargamento das despesas.
3. Câmbio Flutuante: Permitir que a taxa de câmbio seja determinada pelo mercado, sem intervenções diretas constantes do governo. Isso ajuda a economia a se ajustar a choques externos e internos de forma mais eficiente. Atualmente o câmbio que existe no Brasil é o câmbio flutuante sujo, ou seja, o Banco Central (BC) intervém comprando ou vendendo dólares para manter o real valorizado quando há perspectiva de inflação alta e desvaloriza o real quando quer aumentar o emprego e renda com aumento do lucro dos exportadores.
No primeiro dia do Real, o câmbio estava valorizado, no início do Plano Real, a URV era igual a um dólar, 1 para 1, e em 2002 1 dólar já estava em mais de R$ 3,90. E o que tudo indica é que, até o final desse ano de 2024, para trocar um dólar será necessário R$ 5,50.
Desde 1995 — primeiro ano cheio após a implementação da nova moeda — o IPCA encerrou o ano acima de dois dígitos em quatro ocasiões: 1995 (22,41%), 2002 (12,53%), 2015 (10,67%) e 2021 (10,06%). Assim mesmo nos últimos 30 anos de (1995 a 2024) os preços subiram 593%, o que coloca o Brasil um pouco acima de 30% dos países com mais alta inflação no meio do ranking global inflacionário, ocupando a posição de 54° de 167º. Atualmente, em termos práticos, isso quer dizer que, algo que se comprava com R$ 1 à partir de julho de 1994, equivale aos atuais R$ 8,08, com base na última divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em maio de 2024.
Em resumo: a implantação do Plano Real foi um dos mais inovadores da economia mundial. Esse Plano que começou com um forte ajuste fiscal, derrotou uma hiperinflação, originada pelo endividamento motivado pelo excesso de gastos e falta de disciplina com as contas públicas. Hoje vivemos um período de maior estabilização da moeda e dos juros, porém nossa economia que inicialmente foi “indexada” ao dólar, sofre diretamente influência das flutuações do mercado externo, assim como ocorre nos demais países. Desta forma, dentro da política econômica do país, o Banco Central tenta intervir nas flutuações da moeda, comprando ou vendendo moeda estrangeira e títulos públicos, como forma de controlar internamente os juros e a inflação.
Como consumidores, hoje estamos sentindo uma certa perda do poder aquisitivo do salário em relação valor de compra e venda. O aumento e as variações de itens, matérias primas das indústrias, como petróleo, ferro, aço, alumínio e cobre, oneraram consideravelmente os preços dos produtos aos consumidores finais. Os carros populares não são mais tão populares, a manutenção dos serviços básicos como distribuição de água e energia estão nas alturas. O que vemos nesse cenário é que, neste momento, embora os juros estejam “sob controle”, algum processo de reforma será necessário para conservar o poder de compra e estabilidade dos preços. Não podemos perder todo o esforço destes 30 anos de Plano Real, da implantação desta moeda que impulsionou e estabilizou nossa economia.
Assim, seguimos juntos nesta jornada, praticando e difundindo a todos uma educação financeira simples e de resultado.
Até breve!
Juscelino Gaio
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