Feminicídio

Violência contra mulheres no Sul da Ilha: 63 casos em 2025 e o impacto do feminicídio de Catarina Kasten

  • Catarina tinha 31 anos (Foto: Redes sociais, Reprodução) - Região onde Catarina Kasten foi morta registrou 63 casos de violência contra mulheres em 2025

Dados da SSP mostram 63 casos de violência contra mulheres no Sul da Ilha em 2025, com queda de 11%, mas feminicídio de Catarina alerta para riscos públicos.

Um mês do crime que chocou Florianópolis

Neste domingo, 21 de dezembro, completa exatamente um mês desde que Catarina Kasten, de 31 anos, estudante de pós-graduação em Estudos Linguísticos e Literários da UFSC e professora de inglês, foi estuprada e assassinada na trilha da Praia do Matadeiro, no Sul da Ilha de Florianópolis. Ela saía de casa na Praia da Armação para uma aula de natação quando foi vítima de uma emboscada brutal. O autor, um homem de 21 anos preso no mesmo dia após confissão e imagens de câmeras de segurança, se escondeu atrás de uma lixeira, aplicou um golpe de imobilização ("mata-leão"), cometeu estupro e estrangulou a vítima com um cordão, ocultando o corpo em área de mata densa.

O caso, qualificado como feminicídio com três agravantes pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) — morte por asfixia, recurso que dificultou a defesa e ocultação do cadáver —, reacende debates sobre insegurança feminina em áreas turísticas e cotidianas. Mas o que os números oficiais dizem sobre a região? E como isso afeta a liberdade de ir e vir das mulheres?

Dados da SSP: 63 casos nos bairros Armação, Armação do Pântano do Sul e Pântano do Sul

Dados exclusivos da Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP), referentes ao Sistema Integrado de Segurança (SISP) de 1º de janeiro a 4 de dezembro de 2025, apontam 63 registros de violência contra mulheres nesses três bairros do Sul da Ilha — uma queda de 11% em comparação aos 71 casos no mesmo período de 2024. Os tipos incluem ameaça, estupro, lesão corporal dolosa (grave ou gravíssima) e vias de fato. Atenção: o bairro de registro pode não coincidir exatamente com o local do crime, devido a divisas imprecisas, como alerta a Polícia Militar.

Dos 63 casos:

  • 33 ocorreram em ambientes internos (residências, comércios como restaurantes e mercados, veículos, escolas).
  • 18 em vias públicas.
  • 12 em ambientes virtuais (redes sociais, e-mail, apps de mensagens).

O caso de Catarina foi classificado como estupro em via pública no Pântano do Sul. Veja o breakdown por bairro:

Armação do Pântano do Sul (26 casos)

  • Via pública: 7
  • Ambiente virtual: 3
  • Dentro de ambiente: 16
  • Por tipo: 21 ameaças (3 virtuais, 1 comércio, 10 residências, 6 vias públicas, 1 escola); 2 vias de fato; 1 importunação sexual (veículo); 2 lesões corporais (comércios).

Armação (8 casos)

  • Via pública: 3
  • Ambiente virtual: 3
  • Dentro de ambiente: 2
  • Por tipo: 8 ameaças (3 virtuais, 3 vias públicas, 1 comércio, 1 residência).

Pântano do Sul (29 casos)

  • Via pública: 8
  • Ambiente virtual: 6
  • Dentro de ambiente: 15
  • Por tipo: 23 ameaças (2 comércios, 6 virtuais, 9 residências, 6 vias públicas); 1 via de fato (residência); 1 estupro (via pública, caso Catarina); 4 lesões corporais (2 comércios, 1 via pública, 1 outro).

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Esses números mostram que ameaças dominam (52 no total), muitas em residências ou online, mas crimes em vias públicas como o de Catarina destacam riscos em rotas comuns. Por quê isso importa? Mapear esses dados, como defende a advogada Tammy Fortunato, presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência Doméstica da OAB, permite políticas públicas direcionadas: "Se a gente consegue mapear as regiões que mais precisam, vão ter políticas públicas, um policiamento específico para aquela região. Mas, para isso, a gente precisa de denúncia, a gente precisa conhecer a região."

Feminicídio não íntimo

Tammy Fortunato diferencia o feminicídio íntimo (em contextos familiares, previsível) do não íntimo, como o de Catarina, sem vínculo prévio com o agressor: "O caso da Catarina foi um feminicídio não íntimo. Por isso que ele choca tanto, porque é um feminicídio que pode acontecer com qualquer uma de nós. É um feminicídio que a gente não espera, que a gente não tem como prever. São violências diferentes e precisam ser analisadas de modos diferentes."

Ela questiona: "Ela estava caminhando para ir para uma aula de natação. Poderia estar indo para a padaria, para a academia ou simplesmente passear, dar uma volta. Cadê a nossa liberdade de ir e vir em segurança? Nós não temos." O direito à segurança, reforça, está na Constituição Federal, cabendo a União, estados e municípios garanti-lo.

Ações de segurança

Questionadas pelo NSC Total dias após o crime, as autoridades responderam com medidas em curso.

A Prefeitura de Florianópolis destaca rondas da Guarda Municipal, videomonitoramento com reconhecimento facial e o Espaço Acolher no Multihospital para vítimas de assédio, evitando revitimização. Nota integral: "A Guarda Municipal de Florianópolis realiza rondas regulares e ações preventivas em várias regiões da cidade para garantir a segurança da população. [...] Vítimas de assédio e outros crimes sexuais podem, ainda, buscar amparo no Espaço Acolher."

A Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) enfatiza o Programa Rede Catarina de Proteção à Mulher, presente em 295 municípios. Em 2025, a Patrulha Maria da Penha fez 22.279 atendimentos (183 mil desde 2017). Destaques incluem visitas preventivas, Botão do Pânico (16.709 mulheres ativas via app PMSC Cidadão) e "Protetores do Lar" para estudantes. Nota integral disponível no site da PMSC.

Essas iniciativas focam mais em violência doméstica, mas o caso de Catarina expõe lacunas em áreas públicas. Denunciar é crucial, como reforçam as notas.

Fonte: NSC Total

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