Educação Financeira

Você tem dinheiro para me emprestar?

  

Certamente você já ouviu essa frase em algum momento da sua vida, e talvez possa ter feito essa pergunta à alguém. Sempre digo que a parte mais sensível do ser humano é o bolso. Já falei aqui também que as pessoas muitas vezes dão mais valor para pequenas coisas que perdem do que para grandes coisas que ganham ou acontecem. Um exemplo bem cotidiano é a multa de trânsito. A multa não vem para punir a pessoa, ela vem para educar. Uma vez multado, dói! E dói onde? No bolso. Mas a pessoa vai lembrar e sabe que se fizer de novo, lá se vão mais alguns reais e o pior, pontos na carteira.

Mas a questão hoje é emprestar dinheiro, que também dói no bolso, pode destruir relações familiares e de amizades, afetar relações, gerar estresse e riscos emocionais.

Primeiramente, quem empresta dinheiro são instituições financeiras. Qualquer pessoa física que possa fazer um empréstimo é considerado informal, sem contrato e sem garantias. Não gera qualquer obrigação jurídica para o devedor quitar a dívida. Para você que leu até aqui já sabe a minha resposta para a pergunta inicial: não.

A solicitação de emprestar dinheiro sempre nasce de uma boa intenção, de um estreitamento de amizade ou relacionamento. Em primeiro momento até pode parecer uma boa ideia, mas podem gerar consequências desastrosas para ambos os lados.

Aqui me faz lembrar do meu pai que utilizava-se da expressão “no fio do bigode”, era assim que os antigos faziam promessas verbalmente, sem necessidade de contrato assinado, baseada na honra pessoal e na palavra de alguém. Essa expressão tem origem a partir do século XIX quando acordos entre homens eram selados com a garantia de um fio de bigode, retirado como símbolo de compromisso e integridade. Essa prática simbolizava a força da palavra e da honra, representando um compromisso tão firme quanto um contrato formal. 

Ora, já se passaram muitas décadas e muitas mudanças principalmente no comportamento da sociedade. Hoje não tem mais “no fio do bigode”, hoje tem contrato, tem Lei, direitos e obrigações. Não dizem que quem não registra não é dono, e para mim que trabalho na área financeira, só existe o que está autorizado, registrado e assinado no papel.

Se quem emprestar o dinheiro não cumprir o acordo, atrasar ou não efetuar o pagamento conforme o combinado, isso pode gerar brigas e desentendimentos. Cobrar valores emprestados não é uma tarefa fácil, é uma situação bem delicada, para ambos. Gera estresse para pessoa que emprestou, por muitas vezes ter que cobrar insistentemente, na tentativa de reaver o valor, e o devedor em se sentir constrangido, levando muitas vezes a fugir ou ignorar o cobrador.

Posso comparar à uma relação de casamento. Ninguém casa pesando em separar. Ninguém irá emprestar dinheiro sabendo que não será devolvido. No início da relação tudo são flores, não se vê defeitos nas pessoas, justamente pelo estreitamento da amizade nas relações.

Vamos aos fatos.

Primeiramente, pedir dinheiro emprestado já sinaliza que a pessoa tem algum problema em administrar ou fazer a gestão do dinheiro e  do orçamento. Quando alguém tem um montante de dinheiro para emprestar, isso significa que essa pessoa se esforçou de alguma forma para ter essa reserva. O fato de emprestar uma determinada quantia, pode afetar sua capacidade de poupar, investir ou pagar contas. Fatos imprevisíveis acontecem diariamente na vida das pessoas. A intenção até pode ser boa, mas pense na sua paz, na sua estabilidade financeira, e evite colocar em risco seus objetivos.

Segundo, como a pessoa chegou nessa situação? Pra quê precisa desse dinheiro? Imprevistos? Gastos? Padrão de vida elevado? Falta de responsabilidade sobre o dinheiro? Existem várias formas de ajudar. Uma delas é entender a situação financeira e procurar auxiliar o solicitante na organização de suas finanças. Muitas vezes quem está no problema acaba não vendo soluções que podem estar próximas. Então, você pode doar seu tempo.

Outro ponto é, ver se realmente o que a pessoa está precisando é dinheiro. Pode ocorrer da pessoa pedir dinheiro para determinada situação e acabar nem fazendo que que realmente era necessário, vindo a gastar o dinheiro com outras coisas. Agora, se realmente você quiser ajudar, que seja algo material, um produto ou objeto. Então neste caso você pode fazer uma doação ao invés de um empréstimo. Pelo menos não fica a chance do dinheiro “se desviar” pelo caminho, e você evita qualquer estresse com a pessoa, continua com a amizade e controlando seu orçamento.

Ainda, emprestar dinheiro repetidas vezes pode criar um ciclo de dependência financeira em quem já está passando por dificuldades. Isso é percebido nas pessoas que costumam fazer empréstimos constantes. Uma grande parte das pessoas que contratam empréstimos, já possuem mais de um, e em mais de uma instituição financeira. Este fato na vida de uma pessoa já uma alerta, em saber o que está acontecendo, o que está gerando esse descontrole financeiro, por que o dinheiro não está mais alcançando? Como já disse, as vezes alguém de fora pode ver outras soluções que possa auxiliá-lo a resolver este problema. Nestes casos, pode-se buscar um apoio técnico para organizar suas finanças, recomendações para rendas extras ou outras oportunidades.

Há pessoas que têm dificuldade em dizer “não”. Primeiramente, não se sinta culpado ou uma pessoa egoísta. Agradeça por ter pensado em você. Ou ainda, peça um tempo para pensar, isso pode lhe tirar de alguma situação embaraçosa, de pressão momentânea ou de alguma obrigação. Após isso, lembre das suas prioridades, dos seus limites e valores. Diga "não" de forma educada e direta.

Emprestar dinheiro parece um ato de boa vontade, mas traz riscos que vão além dos problemas financeiros que podem ser gerados. Pode-se transformar em uma preocupação constante quando não reembolsado, gerando ansiedade, magoas, desgaste emocional, e prejudicando sua saúde mental.  Lembre-se, seu bem-estar emocional e financeiro deve ser uma prioridade na sua vida.

Portanto, pense muito bem antes de emprestar dinheiro. Analise cuidadosamente a situação e considere alternativas mais saudáveis, como oferecer conselhos financeiros ou ajudar de outras maneiras que não envolvam dinheiro.

Ademais, seguimos juntos, praticando e divulgando a todos uma educação financeira simples e de resultado.

Até breve.

Juscelino Gaio

Consultor Especialista em Administração Financeira