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Uma fintech é uma empresa que junta tecnologia e finanças para criar produtos, serviços e modelos de negócio inovadores no setor financeiro, como meios de pagamento, crédito, investimentos e seguros. Geralmente operam de forma digital, com foco na acessibilidade, agilidade e custos mais baixos para os clientes em comparação com as instituições financeiras tradicionais. Eram para ser a revolução da liberdade financeira. Apps coloridos, cartões metálicos, promessas de inclusão digital. Em segundos, qualquer brasileiro poderia abrir uma conta, transferir valores, emitir boletos, pagar e receber via Pix. Rápido, simples, acessível. Mas no submundo das finanças, essa mesma rapidez virou munição para o crime organizado.
Logo no Brasil, num galpão no interior de São Paulo, agentes federais encontraram computadores ainda ligados em planilhas de controle. Cada linha trazia dezenas de CNPJs criados apenas para receber e repassar dinheiro. O sistema? Fintechs de pagamento. O dinheiro entrava por um boleto falso, passava por uma “conta de passagem” aberta com documentos reciclados, e em minutos estava diluído em centenas de transferências fracionadas. O destino: postos de combustíveis, importadoras de fachada e fundos de investimento “respeitáveis”. O caso, batizado pela Polícia Federal de Operação “Carbono Oculto”, revelou que só nesse setor, entre 2020 e 2024, mais de R$ 46 bilhões foram lavados usando fintechs. E não foi um episódio isolado: segundo o Coaf, as comunicações de operações suspeitas cresceram 766% em nove anos. O crime aprendeu a falar a língua do digital – e fala com fluência.
Estes meios de pagamentos das fintechs aproveitam de uma brecha legalizada de que se não está escrito na lei que é crime, então pode fazer. Uso de contas bolsões em que não é identificado o depositante e origem do dinheiro, apenas controle interno por meio de planilhas de valores a receber e a pagar entre os participantes da lavagem de dinheiro e golpes financeiros e quando há saída de dinheiro é apenas para fundos de investimentos para aplicação financeira em fundos exclusivos ou até mesmo paraísos fiscais.
Não bastasse apenas a lavagem de dinheiro, ainda há golpes financeiros. E o alvo fácil dessa engrenagem está o brasileiro comum. Entre julho de 2024 e junho de 2025, 24 milhões de pessoas caíram em golpes financeiros envolvendo Pix e boletos, somando R$ 29 bilhões em prejuízos. Histórias como a de Marinalva, 62 anos, não saem do noticiário: ela acreditou estar quitando seu financiamento com um boleto enviado pelo “atendente do banco” via WhatsApp. No extrato, o pagamento constava. Dias depois, descobriu: o dinheiro havia sido absorvido por uma conta de fachada em uma fintech e redistribuído em segundos para dezenas de laranjas. Cada vítima é uma gota, mas juntas formam o oceano de dinheiro que alimenta facções, milícias e quadrilhas digitais.
O uso de fintechs é devido principalmente a velocidade e falta de rastreio das movimentações: contas abertas em minutos, transferências instantâneas, boletos gerados sem esforço. E ainda a escala explosiva: o Brasil já tem mais de 1.700 fintechs em operação; o Pix é usado em mais de 70% das transações digitais. Somado a isso temos a regulação assimétrica: por anos, fintechs tiveram menos obrigações de monitoramento do que bancos. Esse vácuo foi explorado por quem entende de engenharia social: criminosos. Enquanto você se deslumbra com cashback e cartões estilosos, eles enxergam um laboratório de lavagem, fraude e sonegação em escala industrial. Tudo com a chancela da “inovação financeira”.
A estratégia e uso de tecnologia que o crime de golpes financeiros é feita em três etapas:
1) Captação: golpes digitais boletos clonados, falso suporte, falso advogado e por ai vai longo. Exemplo de itens de consumo e mercadorias muito abaixo do preço de mercado como aquele Iphone ou smartphone de última geração por menos da metade do preço da loja oficial, com links falsos de pagamento.
2) Ocultação: uso de conta de passagem: fintechs com KYC frágil, ou seja que não tem informações básicas de cadastro dos seus clientes, sem comprovante de renda e muito menos endereço para dificultar o rastreio da origem do dinheiro. As contas recebem os valores e fracionamento de milhares de micropagamentos pulverizados com mistura de dinheiro entra em setores de alto giro como combustíveis e criptomoedas.
3) Integração: compra de ativos, investimentos em fundos e imóveis e dificuldade de rastreio por se tratar de investimentos na economia real.
A pouco tempo depois de muita investigação e integração das forças do Estado explodiu a operação chamada de “Carbono Oculto” que será um divisor de águas. A Receita Federal passou a equiparar fintechs a bancos no dever de compartilhar dados, enquanto o Banco Central reforçou o cerco regulatório. Pela primeira vez houve resultado efetivo na integração entre a polícia federal, ministério público, receita federal e órgãos de vários Estados, e conseguiu desmantelar e prender muitas pessoas envolvidas na lavagem de dinheiro desde operador de fintech a gestores de investimento.
Lavar dinheiro significa ocultar a origem do dinheiro que pode ser desde golpes financeiros que usam para enganar incautos e vulneráveis até dinheiro sujo de sequestro, roubo, tráfico de drogas e de pessoas.
Cada golpe não é apenas um prejuízo individual. É também um imposto que deixa de ser pago, um hospital que não recebe verba, uma escola que não vê merenda, uma rua que continua sem asfalto. A sonegação e a lavagem transformam sonhos coletivos em cofres vazios. Enquanto isso, facções criminosas erguem impérios digitais com a mesma tecnologia que deveria libertar os cidadãos.
Estamos diante de um campo de batalha invisível. Não é mais fuzil contra fuzil. É algoritmo contra algoritmo. De um lado, o cidadão que confia na tela do celular e aperta “confirmar”. Do outro, criminosos que operam com engenharia social, empresas de fachada e fintechs desreguladas. No meio, o Estado tentando correr atrás do prejuízo.
O que está em jogo não é apenas dinheiro. É a credibilidade do sistema financeiro, é a confiança no digital, é a linha tênue entre progresso e tragédia. A escolha é nossa: ou blindamos o futuro, ou entregamos o presente de bandeja ao crime organizado.
Assim, continuamos juntos nesta jornada, praticando e difundindo a todos uma educação financeira simples e de resultado.
Até breve!
Juscelino Gaio

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