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E agora?
A manifestação acabou
A luz apagou
O povo está preso
Sem esperança
E agora?
E agora, você?
Você que é sem nome
Que luta por todos
Você que se manifesta
Que ama a Pátria, protesta?
E agora?
Está sem líder
Está sem discurso
Já não pode escrever
Já não pode falar
Opinar já não pode
Tudo esfriou
A tropa não veio
O acolhimento não veio
A cavalaria não veio
O mito não pode vir
E tudo acabou
E tudo fugiu
E tudo se esfarelou
E agora?
E agora, você?
Sua suave palavra
Seu instante de fúria
Sua voracidade e ignorância
Sua casa
Sua família
Sua tristeza
Sua insensatez
Seu desespero, e agora?
Com nada na mão
Quer abrir os caminhos
Não existem caminhos
Quer morrer pela nação
Mas a nação sucumbiu
Quer liberdade
Liberdade não há mais
E agora?
Se você gritar
Se você lutar
Se você sonhar
Se você dormir
Se você cansar
Se você morrer
Mas você não morre
Você é duro!
Sozinho na multidão
Qual um animal
Sem sentido
Sem direção
Sem parede
Para se encostar
Sem cavalo
Para a galope fugir
Você não galopa
Você marcha!
Mas para onde?
Carlos Drummond de Andrade com seu “José” perdido, desconsolado e sem esperança nos inspira e remete aos tempos vividos, onde nossas instituições se perderam por decisões de algumas cabeças que tentam implantar um regime sem contraditório e totalmente controlado para que possam viver em seus palácios cheios de riqueza rodeados por seus exércitos.
Como “José” o povo brasileiro segue perdido no meio do caos, abandonado a própria sorte. Preso e algemado em campos de concentração como num passado não muito distante.
Aqueles que deveriam proteger, apenas pintam os meios-fios como se nada estivesse acontecendo. Aqueles que deveriam manter a Lei e a ordem agem como servos de líderes medievais.
E agora?
Qual futuro nos aguarda?
Nos restará apenas trabalhar para sustentar as “cigarras” que permanecem a cantar, sem encantar, mas com 10 bilhões para gastar?
Igualdade não é e nunca será o sinônimo de benesse. Igualdade é e será sempre o favorecimento para que vençamos pela meritocracia.
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