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EDITORIAL

“Telefone sem fio”

No ano passado o STF proibiu a TV Brasil Paralelo de veicular um programa por gerar “desordem informacional”. Diferente da fake News que é a propagação de mentira, a desordem informacional foi descrita como a apresentação de fatos verdadeiros que podem gerar um entendimento equivocado comprometendo a autodeterminação coletiva, a livre formação da vontade.

“A desordem informacional é a apresentação de fatos verdadeiros que geram entendimento equivocado comprometendo a autodeterminação coletiva, a livre formação da vontade.”

Primeiro, que a mídia - que já foi apelidada de “Quarto Poder”, seguida do Executivo, do Legislativo e do Judiciário - tem grande poder. Com o progresso das redes sociais, talvez só não seja maior e mais forte que o Poder Judiciário, mas supera, ou melhor, corrobora na influência dos outros dois, Legislativo e Executivo. Tanto é que hoje acompanhamos na palma da mão, com o celular, todos os projetos de lei de quaisquer dos entes Federativos; podemos opinar e participar de enquetes, dar sugestões aos nossos representantes. O maior cliente da mídia são os Governos em publicidades que são garantidas pelo princípio da transparência que, muitas vezes, não é tão transparente assim.

Segundo que facilmente a mídia - tanto pela fala como pela escrita e articulação da lógica e dos argumentos - consegue manipular as massas, de fato. Lamentavelmente nosso país é formado por uma maioria de analfabetos funcionais, aqueles que sabem ler e escrever, mas não sabem interpretar.

Assim, a veiculação de quaisquer notícias numa sociedade que não estuda e que está deformada em sua capacidade cognitiva tem um efeito catastrófico. Estamos vivenciando isso desde Assis Chateaubriand. A mídia direciona. E direciona porque é feita por pessoas com opiniões e gostos próprios, com entendimentos e com experiências que proporcionam julgamentos particulares, algumas bem intencionadas e outras levadas pelo dinheiro, que divulgam, portanto, o que lhes é mais vantajoso, ainda que sejam fake News. Não há ser humano neutro e a informação é passada por humanos ainda que com uso ou apoio de robôs.

“A desordem informacional, diríamos que é inerente à capacidade da sociedade de ler e interpretar.” Os jovens estão recebendo uma educação de superficialidade. Famílias desestruturadas promovem o desmantelamento de uma nação e nas universidades o indicativo do menor esforço colabora para a decadência. Sabem ler, tem diploma, e não sabem argumentar ou interpretar nada. Somos analfabetos com diplomas.  

Uma mesma notícia, veiculada em diversas plataformas e periódicos, promove diferentes opiniões nos leitores pelo simples jogo de palavras. Considerando, sobretudo, que hoje as verdades são simplesmente afirmadas e redirecionadas como um telefone sem fio, ela chega nas pessoas com alterações significativas e totalmente distorcidas. Fala-se, com certeza, aquilo que se ouviu de um terceiro que leu rapidamente na rede social de um quarto indivíduo.

Hoje há muitas verdades, verdades que gritam de qualquer jeito porque a rapidez da informação, com a era do smartphone, indicam imediatamente o que está acontecendo no mundo sob a ótica do observador que muitas vezes já tem um pensamento dirigido. A foto vai postada com a opinião sem qualquer crivo da razão. A diferença de hoje para o passado é apenas a data e a velocidade. Há inúmeros livros, informativos e ensaios, que mostram que a manipulação de intelectuais que perdem a sua referência e lançam à sociedade o que for preciso para manter a ordem, seja porque mudaram de opinião, porque perderem ou modificaram a referência, pelo medo, pela desordem informacional ou pela perda da capacidade cognitiva; o que acontece é que uns decidem o que deve ser dito, outros reproduzem e milhares consomem. Alguns acreditavam que os comunistas comiam criancinhas, outros acreditam que o problema dos yanomamis começou em 2019.

A verdade?

Você vai ter que filtrar, beber na fonte, porque muitas de nossas tragédias foram plantadas em nossas mentes. Hitler é mais condenável que Mao Tsé Tung. Esse é um jogo que se joga no mundo todo e que possui um único Senhor: a busca pelo poder.

Mas, lembrem-se, conhecimento é poder.

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