SAÚDE

Separação dos pais, sem traumas. Como contar aos filhos a decisão da separação?

Tema pesado esse ..., mas superimportante nos dias atuais!

Lembro-me do dia em que meus pais nos chamaram para conversar. Tinham mais de 20 anos de casados, nenhuma briga, discussão ou mal-entendido no currículo familiar. Andavam juntos, sorriam, saiam para jogar com os amigos, mas o casamento em si havia terminado. Para minha mãe estava tudo decidido, meu pai não queria, mas saiu da relação sem uma única briga em nossa frente. Foi fácil? Com certeza não! Eu já havia saído de casa para estudar, minhas irmãs permaneciam. Não foi fácil nem para eles, nem para nós.

Houve problemas nos primeiros meses pós separação entre os dois, depressão, irritabilidade, não compreensão do ocorrido. Mas e para as crianças em si? Ficou algo que poderia ser modificado? Algo que teria que ser feito diferente?

Hoje meus pais têm uma relação invejável de companheirismo, alegria, união e muito mais. Continuam separados, mas jamais deixaram de conviver e de muitas vezes saírem juntos com os amigos. Alguns chamam isso de loucura, outros de AMADURECIMENTO.

Terminar um relacionamento nunca é uma decisão fácil. Quando se trata de uma separação com filhos, este processo torna-se ainda mais difícil. Mesmo que a decisão seja tomada em conjunto, de forma consensual, o fim de um casamento é sempre um marco na vida do casal e, claro, dos filhos. As crianças são as que mais sentem com essa mudança e, por isso, independente dos motivos que levaram o casal a tomar a decisão, é fundamental que os impactos na vida dos filhos sejam amenizados. Afinal, as diferenças entre o casal não podem se tornar um problema dos filhos.

Se você está se separando, entenda que, mais do que saber lidar com o rompimento, é preciso respeitar a capacidade de compreensão e os sinais que a criança demonstra diante deste processo.

Conseguir equilibrar a razão e a emoção e manter os filhos longe desse tumulto de sentimentos não é fácil. Todo rompimento de um casamento consolidado significa uma espécie de luto, tanto para as crianças como para o casal, já que haverá a perda da rotina e dos papéis construídos dentro do contexto familiar. Cada um em um domicílio diferente, com rotinas distintas pode causar ansiedade aos pequenos.

Para os filhos, a separação significa MUDANÇA, muitas vezes, traumática, já que reflete a perda de sua família. A principal dificuldade, no entanto, é entender, na prática, como a sua vida vai mudar. Nesse período é fundamental conversar com as crianças, independentemente da idade. Elas sentem necessidade de nomear, ou seja, encontrar um significado para o que estão vivendo.

Se a opção do casal for pela guarda compartilhada, ou seja, em que os dois têm as mesmas responsabilidades e decisões sobre a vida do filho, é importante esclarecer como será a nova rotina da criança e se ela, por exemplo, vai ficar durante a semana (ou apenas aos finais de semana) na casa do pai ou da mãe. Mesmo quando a guarda é compartilhada, a criança pode continuar morando em apenas um lar. Isso é até recomendado, para que a criança não viva com a mochila nas costas. Vejo tantas crianças tendo que levar dia sim - dia não, malas e mochilas à casa “nova” dos pais. Mudam a rotina diária, horário e o tipo da alimentação, rotina do sono e os deveres e obrigações do dia a dia.

Durante o processo de separação, seu filho pode chorar mais do que o habitual, ter crises de birra, apresentar algum tipo de regressão, como voltar a fazer xixi na cama ou ter dificuldade de dormir sozinho à noite. Voltar para fases anteriores de seu desenvolvimento é um mecanismo de defesa da criança, que mostra como ela é vulnerável.

Procure contar para o pequeno apenas quando tiver certeza da decisão. Evite brigas na frente dos filhos, as crianças não precisam saber todos os detalhes, mas é imprescindível que a situação seja tratada com verdade. Seja claro e verdadeiro quando conversar sobre a separação e isente a criança de qualquer culpa.

Crie um ambiente passível de diálogo, para que a criança se manifeste livremente, expondo seus medos e inseguranças e evite que ela tome partido de uma das partes, fazendo chantagens emocionais ou praticando alienação parental.  

Sempre informe a escola sobre a situação que seu filho(a) está passando, lá será o ambiente que muitas vezes o deixará mais seguro e mais tranquilo. No que se tratar da educação dos filhos, é importante que os pais “falem a mesma língua” e estejam alinhados quanto às regras e obrigações.

Lembre se que a SEPARAÇÃO é do CASAL e não dos pais. Se houver muitas mudanças no comportamento infantil, ansiedade, alterações de humor, alterações na escola procure ajuda do pediatra e do psicólogo. A formação de um adulto feliz e seguro inicia se na infância.

Um grande abraço e até logo.