EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Por que pessoas superinteligentes caem em golpes?

  

Quase toda semana atendo casos de pessoas que caem em golpes, dos mais variados e de todos os valores, e pasmem, pessoas que são referência na sua área de atuação e superinteligente. Como pode acontecer isso? Por que pessoas inteligentes, bem-informadas e até experientes no mercado financeiro continuam caindo em golpes? A explicação quase nunca é falta de conhecimento técnico. É MANIPULAÇÃO EMOCIONAL. Hoje, os criminosos usam da ENGENHARIA SOCIAL — técnicas psicológicas que exploram reações humanas automáticas — para fazer a vítima executar o golpe com as próprias mãos. Eles criam situações de URGÊNCIA, ESCASSEZ OU EXCLUSIVIDADE que forçam decisões impulsivas e ativam atalhos mentais como o VIÉS DE CONFIRMAÇÃO, quando enxergamos apenas o que valida nossa expectativa; o medo de perder uma oportunidade (FOMO); a confiança automática em figuras de “AUTORIDADE”; e o EFEITO MANADA, que convence a pessoa de que algo é seguro só porque “MUITA GENTE ESTÁ FAZENDO”.

Esses mecanismos explicam como situações simples se tornam armadilhas sofisticadas. Um dos casos mais comuns é o golpe do “familiar” no WhatsApp: o golpista envia uma mensagem dizendo que trocou de número e está desesperado no hospital, precisando de dinheiro para pagar um exame. Muitas vítimas, tomadas pelo pânico, fazem o Pix sem ligar para o número antigo. Em 2024, esse golpe se espalhou tanto que hospitais e secretarias de saúde passaram a emitir alertas públicos.

Outro exemplo é a clonagem de WhatsApp para atingir empresas. Um criminoso se passa por um gerente ou fornecedor, envia um boleto adulterado e pressiona o setor financeiro a fazer o pagamento “antes do sistema cair”. Uma empresa de tecnologia brasileira perdeu mais de R$ 800 mil após receber um e-mail falso com nota fiscal alterada e telefonema imitando a voz do fornecedor. A urgência gerada pelo criminoso fez com que a checagem padrão fosse ignorada.

Nos golpes de romance, a manipulação é ainda mais profunda. Criminosos constroem relacionamentos online por semanas, enviam fotos reais, histórias comoventes e até realizam videochamadas usando deepfake. Quando a confiança está elevada, surge o pedido de dinheiro — normalmente para emergências, viagens ou investimentos. Uma empresária paulista perdeu mais de R$ 400 mil nesse tipo de golpe em 2023, convencida de que estava ajudando alguém com quem se relacionava emocionalmente.

A tecnologia ampliou a sofisticação. Em Hong Kong, uma empresa perdeu milhões após golpistas enviarem um vídeo deepfake do diretor financeiro solicitando transferência urgente. No Brasil, circulam áudios falsos imitando vozes de filhos e netos pedindo “ajuda imediata”. Pais e avós enviam dinheiro pela emoção, não pela razão.

Bots também se tornaram armas populares. Sites falsos de banco aparecem em anúncios patrocinados no Google. A vítima acessa o site, acredita estar falando com o suporte oficial e entrega senhas ou códigos de autenticação. Em poucos minutos, a conta é esvaziada. Um caso comum envolve pessoas que pesquisaram “suporte Nubank” e foram direcionadas a números fraudulentos que pediram “códigos de segurança para confirmar identidade”.

Há ainda golpes de logística: mensagens informam que é preciso pagar uma “taxa de reentregar” para liberar encomendas. Em 2024, consumidores relataram casos envolvendo nomes como Mercado Livre, Shopee e Correios, todos falsos, mas extremamente convincentes. Outro golpe crescente é o do “aluguel garantido”: criminosos anunciam imóveis reais, copiados de sites, e pedem sinal para reserva. Quando a vítima chega ao endereço, descobre que o imóvel nunca esteve disponível.

No mercado de investimentos, golpes com criptomoedas continuam populares. Vídeos deepfake com apresentadores famosos ou CEOs de bancos passam a sensação de legitimidade. Prints falsos de extratos e grupos de Telegram com pessoas “felizes com seus lucros” reforçam o efeito manada. Em muitas cidades brasileiras, esquemas de rendimento garantido — alguns com escritórios de luxo — enganaram milhares de pessoas.

Mas por que tudo isso funciona tão bem? Porque os golpistas estudam a alma humana. Eles entendem que, quando a emoção domina, a lógica perde força. E exploram fragilidades que todos nós temos — independentemente de renda, escolaridade ou inteligência.

Somos vulneráveis porque somos humanos. Temos MEDO DE PERDER OPORTUNIDADES, medo de passar VERGONHA, medo de SER JULGADOS por não ajudar um parente. Temos pressa no dia a dia e muitas vezes queremos encerrar uma situação rapidamente. Temos dificuldade em lidar com incerteza e buscamos conforto naquilo que parece familiar. Quando alguém SIMULA AUTORIDADE, nossa tendência automática é obedecer. Quando acreditamos estar falando com alguém querido, nossa prioridade emocional é socorrer, não investigar. E quando vemos “TODO MUNDO GANHANDO”, ativamos o desejo ancestral de não ficar para trás.

Outra fragilidade poderosa é o EXCESSO DE AUTOCONFIANÇA. Muitas pessoas acreditam que “COMIGO NÃO ACONTECE”, que são “espertas demais para cair em golpe”. Essa sensação de invulnerabilidade reduz a vigilância e aumenta a chance de alguém ser enganado justamente por relaxar no momento errado, ABAIXAR A GUARDA. Há também a fragilidade do cansaço: golpes acontecem no fim do expediente, à noite, durante uma viagem ou em meio ao estresse — momentos em que o cérebro busca atalhos para decidir rápido e aliviar a carga mental.

É nesse ponto que a engenharia social é mais eficiente: ela não ataca sistemas, ataca emoções. OS CRIMINOSOS SABEM QUE A VÍTIMA CERTA, NO MOMENTO EMOCIONAL CERTO, TOMARÁ A DECISÃO ERRADA. Por isso, a proteção começa pela gestão emocional. Antes de qualquer transferência ou decisão financeira, pare, respire e confirme por outro canal. Duvide de urgências, de mudanças de contas, de pagamentos inesperados, de promessas de lucro garantido. E lembre-se: golpes não acontecem porque as pessoas são ingênuas. Acontecem porque são humanas. E justamente por isso, a melhor defesa continua sendo a mesma: informação, calma e verificação. Ou seja, PARE, RESPIRE, PENSE, PODE SER GOLPE, DESCONFIE.

Ademais, seguimos juntos, praticando e divulgando a todos uma educação financeira simples e de resultado.

Até breve.

Juscelino Gaio

Consultor Especialista em Administração Financeira