Essa conexão permanente é uma característica marcante da geração dos 'Ultrajovens'
Atire a primeira pedra quem nunca checou mensagem do celular no sinal vermelho, mandou e-mail na fila do supermercado ou assistiu a um vídeo no banheiro. Estamos cada vez mais conectados e por cada vez mais tempo. Dentro desse contexto, as situações acima passaram a se enquadrar no que a maioria de nós considera normal. Porém, se muitos de nós, que fomos conhecer os smartphones na vida adulta, já temos uma certa dependência dessa necessidade de conexão, imagine quem nasceu com o parto transmitido ao vivo pelo celular.
Uma grande parte dos jovens que hoje está na faixa dos 20 anos simplesmente não sabe o que fazer offline. Essa conexão permanente é uma característica marcante da geração dos "Ultrajovens". Além da necessidade de estar conectados o tempo todo, esses adolescentes com idade de adultos depositam grande parte das atenções à manutenção de suas personas nas redes sociais. É ali que se mostram e se definem, bem mais do que no ambiente real, como se fossem personagens em sua própria história. Ali ostentam bandeiras que na maioria das vezes não defendem na prática. Isso se explica, em parte, porque para eles, a vida é resolvida pelo celular. O que não se pode resolver por ali não interessa, não lhes pertence. Por isso não sonham com casa própria, casamento ou aposentadoria, coisas que dariam muito trabalho na prática. Essa facilidade toda de uma vida em que tudo passa e se resolve rápido, tira deles o exercício da paciência, assim como se perde a noção de ócio. Fazer nada é algo que muitos desconhecem.
O resultado é que, com tanta informação ao alcance, que fica difícil manter o foco. E isso está formando uma geração de distraídos. Um estudo da Nielsen Neuroscience mostrou que um jovem chega a trocar de um tipo de tela para outro até 27 vezes por hora. A título de comparação, uma criança de três anos chega a trocar 33 vezes. Informação é diferente de conhecimento. Para absorver algum conteúdo, é preciso tempo e atenção. A nossa atenção é uma só; se temos que dividi-la em mais atividades, ela se torna mais dispersa. Por isso, paradoxalmente, quanto mais informação esse perfil de jovem absorve, menos ele retém. E aí, quando sai da tela para conversar, muitas vezes é um desastre.
Dia desses um amigo que trabalha com seleção de profissionais para vagas de emprego me relatou que, ao pedir aos candidatos que citassem o nome de um - apenas um - deputado, muitos foram eliminados porque simplesmente não souberam. É claro que estamos falando de uma parte dos nossos jovens, não se pode generalizar. Mas é fácil perceber essa dispersão e desatenção entre os mais jovens com os temas sociais, políticos e econômicos. O grande número de intenção de votos brancos e nulos apontados em pesquisas eleitorais certamente tem ligação com isso. Mais uma vez, é desafio dos educadores - pais e professores, dentro e fora da escola - encontrar mecanismos que tornem mais interessante e dinâmica a forma de ensinar. Quanto mais cedo conseguirmos despertar o interesse das crianças sobre os temas que interferem diretamente em suas vidas, menos tempo elas - e nós - sofreremos as consequências desse desinteresse.
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